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Vídeos do Gonzaga Pinto
Neste vídeo, você acompanha
a execução completa
da obra “Seis Danças Imperfeitas”,
composta por Gonzaga Pinto
para violão solo.
A peça propõe uma série de
variações rítmicas e
harmônicas que rompem com
a simetria tradicional
das danças, explorando a
expressividade do violão
com nuances modernas e instigantes.
Ideal para quem aprecia
música instrumental
com identidade brasileira
e contemporânea.
Música - Gonzaga Pinto
Violão - Felipe do Vale
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In dubbio di mio stato, or piango or canto,
Et temo et spero; et in sospiri e ‘n rime
Sfogo il mio incarco: Amor tutte sue lime
Usa sopra ‘l mio core, afflicto tanto.
Or fia già mai che quel bel viso santo
Renda a quest’occhi le lor luci prime
(lasso, non so che di me stesso estime)?
O li condanni a sempiterno pianto;
Et per prender il ciel, debito a lui,
Non curi che si sia di loro in terra,
Di ch’egli è il sole, et non veggiono altrui?
In tal paura e ‘n si perpetua guerra
Vivo ch’i’ non so più quel che già fui,
Qual chi per via dubbiosa teme et erra.
De meu estado incerto, ou choro ou canto,
E temo e espero; e entre o suspiro e a rima,
Alivio o meu fardo: e Amor me lima
O peito com tal força que me espanto.
Há de jamais aquele olhar tão santo
Nos meus olhos verter sua luz prima
(caso, exangue, o mereça a minha estima)?
Ou me condena a sempiterno pranto?
Não se importa, na altíssima morada,
Com o que eles hão de ser aqui na terra,
De que ele é o sol, pois outro eu não veria?
Em tal receio e tão perpétua guerra
Vivo, que já não sou quem fui um dia
Temendo e errando por ignota estrada.
Se o amor não é, qual é este sentimento?
Mas se é amor, por Deus, que coisa é a tal?
Se boa, por que tem ação mortal?
Se má, por que é tão doce o seu tormento
Se eu ardo por querer, por que o lamento
Se sem querer o lamentar, que val?
Ó viva morte, o deleitoso mal,
Tanto podes, sem meu consentimento
E se eu consinto, sem razão pranteio,
A tão contrário vento, em frágil barca,
Eu vou para o alto mar, e sem governo.
É tão grave de error, de ciência é parca
Que eu mesmo, não sei bem o que anseio,
E tremo em pleno estio, e ardo no inverno
Outre la spera che piu larga gira
Passa ‘l sospiro ch’esce del mio cuore:
Intelligenza nova, che l’Amaore
Piangendo mette in lui pur su lo tira
Quand’elli e giunto lá dove disira
Vede uma donna che rieve onore
E luce si, che pel lo suo splendore
Lo peregrino spirito lo mira
Vedela tal, che quando ‘I mi ridice
Io non lo intendo, si parla sotile
Al cor dolente, che lo fa parlare
So io que parla di quella gentile,
Peró che spesso recorda Bearice
Si ch’io ‘intendo bem, donne mie care.
Versão do Gonzaga
Última esfera que agora gira
Vem o suspiro do meu coração
Inteligência nova que o amor sentira
Põe nele chorando minha emoção
Quando ele chega, naquela lugar
Vê a mulher bela, suave e amada
Que tanto resplandece no seu andar
Que o espírito peregrino jamais se enfada
A vê de tal modo que, ao voltar a mim
Não entendo eu sua fala estranha
Ao meu coração sofrido falar assim:
Eu sei que falo tanto sempre dela
De que de Beatriz me faz lembrar
Dentre mulheres, só fala de uma estrela
Su la poppa sedea d’uma barchetta
Che ‘l mar segando era tirata,
La donna mia com altra accompagnata
Cantando or una ou altra canzoneta.
Or questo lito e tor quest’isoletta,
Et ora questo et or quella brigata
Di donne visitando era mirata
Qual descesa dal cielo uma angioleta
Io que seguendo lei vedeva farsi
Di tutti parti encontro a rimiraria
Gente videa miracol nuovo
0gni spirito in me distarsi
Sentiva, vedea, e com amor di commendarla
Suzio non verdea il ben ch’io provo
Versão do Gonzaga
Sentada sobre a proa de uma barqueta
Que navegava rápido, atravessando as ondas
A minha amada de outras acompanhada,
Cantando ora uma, oura outra outra canzãozinha
Ora esta praia, ora outra pequena ilha
Ora esta, ora outra comitiva
De mulheres em visita era observada
Como um anjinho descido do céu
Eu, seguindo-a, via chegarem
De todos os lugares, para revê-la
Pessoas, a via como um novo milagre
Sentia todos os meus ânimos despertarem
E, desejoso de louvá-la com amor
Satisfeito, nunca havia sentido o bem que agora sinto.
Voi che ascoltati in rime sparse il suono
Di questo spiri un dio nutriva il core
Sui mio primo giovanile errore
Puo andare in parte altro onda quel chi sono
Del vario silenzio piango e ragiono
Fra de vane speranze ll won dolore,
Ove sai chi per prova intende amore
Spero trovare pietá non che perdoro
Ma ben peggiar siccome al poco in tutto
Favola cui gran telco onde sovente
Di me mesdesmo meco mi vergogno
Et dei mio vaneggiare vergogna é frutto
E il percy e conoscere chiaramente
Che quanto piace al mondo é breve sogno
Vai meu barco, cheio só de olvido,
À meia noite, ao árduo mar, no inverno,
Entre Cila e Caribdis; e ao governo
Vê-se o senhor, melhor: meu inimigo.
A cada remo um pensar atrevido
Parece rir à vaga e ao próprio averno:
Rompe as velas um vento úmido, eterno
De esperanças, desejos e gemidos
Chuva de pranto, névoa de rancor
Afrouxa e banha cabos extenuados,
De ignorância trançados e de error
Foge-me o doce lume costumeiro,
Razão e engenho da onda são tragados;
E eis que do porto já me desespero
Quanto mais perto estou do dia extremo
Que o sofrimento humano torna breve,
Mais vejo o tempo andar veloz e leve
E o que dele esperar falaz e menos
E a mim me digo: pouco andaremos
De amor falando, até que como neve
Se dissolva este encargo que a alma teve
Duro e pesado, e a paz então veremos
Pois que nele cairá essa esperança
Que nos fez delirar tão longamente
E o riso, e o pranto, e o medo, e também a ira;
E veremos o quão frequentemente
Por coisas dúbias o ânimo se cansa
E que não raro é em vão que se suspira
Se a minha vida do áspero tormento
E tanto afã puder se defender,
Que por força da idade em chegue a ver
Da luz do vosso olhar o embaciamento
E o áureo cabelo se tornar de argento
E os verdes véus e adornos desprender,
E o rosto que eu adoro, empalecer,
Que em lamentar me faz medroso e lento
E tanta audácia há de me dar o Amor,
Que vos direi dos martírios que guardo,
Dos anos dias, horas o amargor.
Se o tempo é contra este querer em que ardo
Que não o seja tal que à minha dor
Negue o socorro de um suspiro tardo.
Erano i capei d’oro a l’aura sparsi
Che in mille dolci modi gli avolgea,
E ‘i vago lume otra mistura ardea
Di quei begli occhi, ch’or ne son scarsi
E ‘l viso di pietosi color farsi
Non so se vero o falso, mi parea:
‘i che l’esca amorosa al peto avea
Qual meraviglia se di súbito arsi
Non era l’andar suo cosa mortale,
Ma d’angelica forma, e le parole
Sonavan altro che pur voce umana:
Uno spirito celeste, um vivo sole
Fu quel ch’i ‘vidi: e se non fosse or tale,
Piaga per allentar d’arco non sana
Versão do Gonzaga
Eram os cabelos dourados esparsos ao vento,
E em mil doces nós a envolvia,
E a vaga desmedida luz resplandecia
Daqueles bonitos olhos, que hoje acalento
E o rosto transformando-se em piedosas cores,
Não sei se parecia real ou uma ilusão:
Eu que tinha no peito amorosas dores,
Por qual maravilha tomou-me o coração.
Não era o seu andar coisa mortal
Mas de angélica forma, e as palavras,
Soavam diferentes do som, humana voz
Um espírito celeste, um vivo sol atroz
Foi o que eu vi: e se agora não fora assim
Ferir-me pela lentidão do arco sempre em mim
Chorosas rimas, ide à pedra escura
Que o meu tesouro caro em terra esconde
Chamai, aquela que do Céu responde
Mergulha o corpo embora em cova escura
Dizei-me que me causa esta amargura
De vida este sulcar horríveis ondas
Mas que colhendo lentamente as frondes
Dos louros seus, a sigo a sepultura
Viva e morta só dela vou falando
Em qualquer caso viva pois farei
Que, imortal, a conheça o mundo e a ame
Praza a Deus que ela esteja atenta quando
Vir que eu ao seu encontro em breve irei
E, quando-me no Céu, me atraia e chame
Laura morreu contaminada pela Peste Negra (1348- 1351)
Quando fra l’autre donne ad ora, ad ora
Amor ven nei ben viso di costei
Quando ciascuna e men bella di lei
Tanto cresci ‘l desio che m’innamora
I’ benedico in loco e ‘l tempo et l’ora
Che su alta miraron gli occhi mei,
Et dico Anima assai rengratiar dei
Chi fosti a tanto honor degnata allora
Da lei ti vên l’amoroso pensero
Che mentre ‘l segui al sommo ben t’invia
Pocho prezando quei ch’ogni houm desia
Da lei vien l’amorosa legigiadria
Ch’al ciel ti scorge per destro sentero
Si chi vo giá de la speranza altero
Era il giorno eh ‘al sol s escoloraro
Per la pietá de suo fattore i rai,
Quando i’ fui preso, e nom me ne guardai,
Ché i be’ vostr’occhi, donna, mi legaro
Tempo no mi parea da far riparo
Contr’a a’ colpi d’Amor-, peró m’andai
Secur, senza sospetto: onde i miei guai
Nel commune dolor s’incominciaro.
Trovommi Amor del tutto disarmat,
Et aperta la via per gli occhi al core,
Che de lagrime sont fatti uscio e varco.
Peró, al mio parer, non li fu onore
Ferir me de saettta in quello stato
A voi armata nom mostrar pur l’arco
Versão para o português
Era o dia em que o sol escurecia
Os raios por piedade ao seu fator,
Quando eu me vi submisso ao vivo ardor
Do teu formoso olhar que me prendia
Defender-me do golpe eu não queria;
Desobrigado achou-me então Amor;
Por isso acrescentou-se a minha dor
À dor universal que assaz crescia.
Achou-me Amor de todo desarmado,
Pelos olhos, ao peito aberta a estrada,
Olhos que se fizeram mar de pranto.
Porém a sua ação não o honra tanto:
Ferir-me, sendo inerme o meu estado,
Não te visar quando eras tão armada.
Como o Rei Lear não sentes a tormenta
Que te desaba na fatal cabeça!
(Que o céu d’estrela todo resplandeça)
A tua alma, na dor mais nobre aumenta.
A desventura mais sanguinolenta
Sobre os teus ombros impiedosa desça,
Seja a treva mais funda a mais espessa...
Todo o teu ser em músicas rebenta.
Em músicas e em flores infinitas
De aromas e de formas esquisitas
E de um mistério singular, nevoento
Ah! Só da Dor o alto farol supremo
Consegue iluminar, de extremo a extremo,
O estranho mar genial de Sentimento!
Vai Peregrino do caminho santo,
Faz da tu’alma lâmpada do cego,
Iluminando, pego sobre pego
As invisíveis amplidões do Pranto
Ei-lo do amor o cálice sacrossanto!
Bebe-o feliz, nas tuas mãos o entrego...
Eis o filho leal, que eu não renego,
Que defendo nas dobras do meu manto.
- Assim ao Poeta a Natureza fala!
Enquanto ele estremece ao escutá-la,
Transfigurado de emoção, sorrindo...
Sorrindo a céus que vão se desvendando,
A mundos que se vão multiplicando,
A portas de ouro que se vão abrindo!
Almas ansiosas, trêmulas, inquietas,
Fugitivas abelhas delicadas
Das colmeias de luza das alvoradas,
Almas de melancólicos poetas,
Que dor fatal e que emoções secretas
Vos tornam sempre assim desconsoladas,
Na pungência de todas as espadas,
Na dolência de todos os ascetas!
Nessa esfera em que andais, sempre indecisas
Que tormento cruel vos nirvaniza,
Que agonias titânicas são essas?!
Por que não vindes, almas imprevistas,
Para a missão das límpidas conquistas
E das augustas, imortais Promessas?!
O coração que sente vai sozinho,
Arrebatado sem pavor sem medo...
Leva dentro de si raro segredo
Que lhe serve de guia no Caminho.
Vai no alvoroço, no celeste vinho
Da luz, os bosques acordando cedo,
Quando de cada trêmulo arvoredo
Parte o sonoro e matinal carinho.
E o Coração vai nobre e vai confiante,
Festivo como a flâmula radiante,
Agitada bizarra pelos ventos...
Vai palpitando, ardente, emocionado,
O velho Coração arrebatado,
Preso por loucos arrebatamentos!
Vê como a Dor te transcedentaliza!
Mas num fundo da Dor crê nobremente.
Transfigura o teu ser na força crente
Que tudo torna belo e diviniza.
Que seja a Crença uma celeste brisa
Inflando as velas dos batéis do Oriente
Do teu Sonho supremo, onipotente,
Que nos astros do céu se cristaliza
Tua alma e coração fiquem mais graves
Iluminados por carinhos suaves,
Na doçura imortal sorrindo e crendo...
Oh! Crê! Toda a alma humana necessita
De uma Esfera de cânticos, bendita,
Para andar crendo e para andar gemendo!
Um ser na placidez da Luz habita,
Entre os mistérios inefáveis mora.
Sente o florir das lágrimas que chora
A alma serena, celestial, bendita.
Um ser pertence a música infinita
Das Esferas pertence à luz sonora
Das estrelas do Azul e hora por hora
Na Natureza virginal palpita.
Um ser desdenha das fatais poeiras,
Dos miseráveis ouropéis mundanos
E de todas as frívolas cegueiras...
Ele passa, atravessa entre os humanos,
Como a vida das vidas forasteiras,
Fecundadas nos próprios desenganos.
Ó doce, triste, suave e cativante,
O tempo dos sonhares tão distante
Quando a vida em festa explodia em flores
Perfumando o tinto vinho e meus amores
Um vulto de mulher, a placidez, a luz
Vastas paisagens, cores, primaveras.
Nos dois, o lago azul, aromas de alcazus,
As cristalinas águas de quimeras.
Falávamos de coisas vãs e prazerosas,
Num perpassar de nuvens deliciosas,
Nesses momentos que se findam em instantes.
Ambos cansados no minuto mudo,
Olhos nos olhos, dizendo quase tudo
Desnecessários em bocas dos amantes
Desnecessários em bocas dos amantes
O ser que é ser e que jamais vacila
Nas guerras imortais entra sem susto
Leva consigo este brasão augusto
Do grande amor da grande fé tranqüila.
Os abismos carnais, da triste argila
Ele os vence sem ânsias e sem custo...
Fica sereno, num sorriso justo,
Enquanto tudo em derredor oscila.
Ondas interiores de grandeza
Dão-lhe esta glória em frente à Natureza,
Esse esplendor, todo esse largo eflúvio.
Um ser que é ser transforma tudo em flores...
E para ironizar as próprias dores
Canta por entre as águas do Dilúvio!
Lá das colheitas do celeste trigo
Deus ainda escolhe a mais louçã colheita
É a alma mais serena e mais perfeita
Que ele destina a conservar consigo.
Fica lá, livre, isenta de perigo,
Tranquila, pura, límpida, direita
A alma sagrada que resume a seita
Dos que fazem do amor eterno Abrigo.
Ele quer essas almas, os pães alvos
Das aras celestiais, claros e salvos
Da Terra em busca das Esferas calmas.
Ele quer delas, todo o amor primeiro
Para formar o cândido mealheiro
Que há de estrelar todo o Infinito de almas.
Abre-me os braços, Solidão profunda,
Reverência do céu, solenidade.
Dos astros, tenebrosa majestade,
Ó planetária comunhão fecunda!
Óleo da noite sacrossanto, inunda
Todo o meu ser, dá-me essa castidade,
As azuis florescências da saudade,
Graça das Graças imortais oriunda!
As estrelas cativas no teu seio
Dão-me um tocante e fugitivo enleio,
Embalam-me na luz consoladora!
Abre-me os braços, Solidão radiante
Funda fenomenal e soluçante
Larga e búdica, Noite redentora.
Ó virgem branca, Estrela dos altares,
Ó rosa pulcra dos Rosais polares!
Branca, do alvor das âmbulas sagradas
E das níveas camélias regeladas
Das brancuras da seda sem desmaios
E da lua de linho em ninho e raios
Regina Coeli das sidérias flores
Hóstia da Extrema-Unção de tantas dores.
Ave de prata e azul, Ave dos astros...
Santelmo aceso, a cintilar nos mastros.
Gôndola etérea de onde o Sonho emerge...
Água lustral que o meu Pecado asperge.
Bandolim do luar, Campo de giesta,
Igreja matinal gorjeando em festa.
Aroma, Cor e Som das Ladainhas
De Maio e Vinha verde dentre as vinhas.
Dá-me, através de cânticos, de rezas,
O Bem, que almas acerbas torna ilesas.
O Vinho d’ouro, ideal, que purifica
Das seivas juvenis a força rica.
Ah! Faz surgir, que brote e que floresça
A vinha d’ouro e o vinho resplandeça.
Pela Graça imortal dos teus Reinados
Que a Vinha os frutos desabroche iriados.
Que frutos, flores essa vinha brote
Do céu sob o estrelado chamalote.
Que a luxúria poreje de áureos cachos
E eu um vinho de sol beba aos riachos.
Virgem, Regina, Eucaristia, Coeli,
Vinho é o clarão que teu Amor impele.
Que desabrocha ensanguentadas rosas
Dentro das naturezas luminosas.
Ó Regina do Mar! Coeli! Regina!
Ó Lâmpada das naves do Infinito!
Todo o Mistério azul desta Surdina
Vem d’estranhos Missais de um novo Rito!...
On the marriage of a virgin
Dylan Thomas, tradução de Caio Túlio Costa
Waking alone in a multitude of loves when morning’s light
Surprised in the opening of her nightlong eyes
His golden yesterday asleep upon the iris
And this day’s sun leapt up the sky out of her thighs
Was miraculous virginity old a loaves and fishes,
Though the moment of a miracle is unending lightining
And the shipyards of Galilee’s footprints hide a navy of doves
No longer will the vibrations of the sun desire on
Her deepsea pillow where once she married alone,
Her heart all ears and eyes, lips catching the avalanche
Of the golden ghost who ringed vith his streams her mercury bone,
Who under the lids of her windows hoisted his golden luggage,
For a man sleeps where fire leapt down and she learns through his arm
That other sun, the jealous coursing of the unrivalled blood.
Despertando sozinha entre uma profusão de amores, quando a luz da manhã
Surpreendia no abrir de seus olhos longos como a noite
O dourado ontem dele, adormecido sobre sua íris
E o sol desse dia saltou das suas coxas para o céu
A milagrosa virgindade era velha como pães e peixes,
Embora o momento do milagre seja um relampejar sem fim
E no rastro da Galiléia os estaleiros escondam uma frota de pombas.
Nunca mais as vibrações do sol desejarão
Sua almofada profunda como mar onde uma vez sozinha ela se casou
Seu coração todo olhos e ouvidos lábios agarrando a avalanche
Do espírito dourado que enroscou com sua corrente seu osso mercurial,
Que sob o parapeito de sua janela içou a bagagem dourada,
Pois dorme um homem onde caiu o fogo e ela conhece entre seus braços
Aquele outro sol, o ciumento fluir do sangue sem rival
As rosas da primavera
São tantas que até nem sei
Abriram-se nas janelas
E com elas enfeitei
O sorrido da pequena
Que os lábios eu beijei
Na noite de lua branca
Saudade me traz o luar
Morena minha morena
Dos olhos da cor do mar
Do sorriso largo e pleno
Da boca pequena a me chamar
Morena minha morena
Dos olhos da cor do mar
Muitas rosas nos cabelos
Vermelhas ao sol a balançar
Ela me disse outro dia
Que lhe doía a espinha
E o coração
Disse também que sofria
Pontada no baço
Nas tardes de verão
Tinha no rosto um cansaço atroz
Lembrou-me um vulto fugaz
Desses que ganham da vida
Curto e breve repouso
E nada mais
Contou-me a vida passada
Difícil sempre danada
De se levar
Do João perdido na noite
Dos filhos bambos no açoite
Mil pontas pra segurar
Tinha nos olhos um ódio feroz
No corpo gesto voraz
Desses que expressam desdita
Da velha vida maldita
De se aturar
Pediu-me triste uma nota de cem
Somente até o mês que vem
Jurou-me paga segura também
Acompanhada das graças do além
Baixou os olhos prantosos no chão
Resmungou frase de baixo calão
E lamentou a precisão.
Claras marcas de um tempo,
Vento sempre gentil,
Vêm trazendo saudade neste abril
De um passado distante,
Quem te viu?
Onde a voz era um canto
Que sumiu
Em lugar muito espanto
Se sentiu.
Gente que não volta mais,
Sombra de vidas fatais
Nas emoções
Mães a chorar pelos filhos seus
Chora, feche as suas cicatrizes,
Ilusões fazem felizes,
Velhos corações
Canta, inda resta uma lembrança
Nas visões sem esperança
Desta vida atroz
Com a névoa como manto
A fada na madrugada
Aumenta a graça e o encanto
Daquela a rosa orvalhada
Por meu amor desprezada
Lancei-me em outra aventura
Mesmo que não dê em nada
Esquecê-lo é minha jura
Sofro mágoas, tantas, tantas!
Silêncio sem compaixão
Tu negas respostas quantas,
Para o aflito coração
É doce não sei de quê,
Eu sinto nem conto quando
Me disseram que é porquê
Sem querer estou te amando
Primeira estrela que vejo
Dai-me na vida um romance,
É tudo que mais desejo:
Um amor a meu alcance
O pequeno grão de areia
Enfrenta a fúria do mar
No chão rola, luta e anseia
Viver ao sol e ao luar
Vendo o mundo de um mirante,
Notei ausência de amor
Como verdade, gritante
Tristeza miséria e dor
Você todo encanto e graça
Transformou meu coração,
Pois sofri em sua taça
Doce sabor de paixão
Se o amor dura uma vida,
Hei de amar-te até morrer,
Se morrer é despedida,
Nenhum adeus virás ver
Ao partir como legado
Deixo memórias de amor
Viver ido, meu amado
Foi você, saudade e dor
Quanto sorrir, ao te avistar
E eras só encanto
Envolta no luar
Na noite azul
Mirei-te em vão
Pois não notaste logo
Este meu coração.
Preso de espanto e num sonhar
Dizendo só pra mim
Hoje serás feliz,
Feitiço bom
Estrela da manhã
Que porá fim
Nesta vida malsã
Tirei-te pra dançar
Disseste sim
Tem corpo suave em mim
Que turbilhão
Rodamos no salão
Tempo de amor,
Ternos olhares, ah,
Que emoção
Havia, então,
Sofrer nenhum
Ao se findar a dança
Éramos um.
Perdi-me inteiro/no amor profundo
Que foi você
Perdi-me todo/só na esperança
Que faz viver
Perdi-me tanto/na breve vida
Do bem querer
Perdi-me puro/no dia claro
Do amanhecer
Perdi-me santo/no céu tão claro
Do renascer
Perdi-me tanto/que agora vivo
Do anoitecer
Foram-se os natais de nossa ignorada infância
Ficaram deles retalhos de saudade na lembrança
As guirlandas às portas; os mimos; a azul e mansa
E doce noite de criança-anil; vivendo na distância
Foram-se os natais de nossa gris adolescência
Quando a inocência abalada quase extinguia
Em face do vago mundo novo que nos compungia
E éramos então sofridos e sozinhos na demência
Foram-se os natais de nossa prisca madurez
E sobre a mesa os desafios da vida e do talvez
Amenizavam-se nos risos e no brilho dos cristais
Hoje, percorrido os caminhos de tantos natais
Quando a trôpega jornada abriu-nos cicatrizes
Buscamos num canto da memória os dias mais felizes
Vídeos do Gonzaga Pinto
Não é ainda a noite
Mas é já frio o céu
Do vento o ocioso açoite
Envolve o tedio meu
Que vitórias perdidas
Por não as ter vencido
Quantas perdidas vidas
E o sonho sem ter sido
Ergue-te ó vento do ermo
Da noite que aparece!
Há um silêncio sem termo
Por trás do que estremece
Pranto dos sonhos fúteis
Que a memória acordou
Inúteis, tão inúteis -
Quem me dirá quem sou?
Porque que importa de onde a brisa
Traz o olor que nela vem.
O coração não precisa
De saber o que é bem
A mim me baste nesta hora
A melodia que embala.
Que importa se, sedutora,
As forças da alma cala
Quem sou pra que o mundo perca
Como o que penso a sonhar?
Se melodia me cerca
Vivo só a me cercar
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece
De balas traspassado
- duas de lado a lado-
Jaz morto e arrefece
Raia-lhe a farda o sangue
De braços estendidos,
Alvo louro exangue,
Fita com o olhar langue
E cego os céus perdidos
Tão jovem, que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
O menino de sua mãe
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve
Dera-lhe mãe está inteira
E boa a cigarreira
Ele é que já não serve.
De outra algibeira alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo
La longe em casa, há a prece:
“que volte cedo e bem!
(malhas que império tece!)
Jaz morto e apodrece,
O menino de sua mãe
Ao longe ao luar,
No rio uma vela,
Serena a passar,
Que é que me revela?
Não sei, mas meu ser
Tornou-se-me estranho,
E eu sonho sem ver
Os sonhos que tenho.
Que angustia me enlaço?
Que amor não se explica?
É a vela que passa
Na noite que fica.
Na ribeira deste rio
Ou na ribeira daquele
Passam meus dias a fio
Na me impede, me impele,
Me da calor ou da frio.
Vou vendo o que o rio faz
Quando o rio não faz nada,
Vejo os rastros que ele traz,
Numa sequencia arrastada,
Do que que ficou para trás.
Vou vendo e vou meditando,
No bem no rio que passa
Mas só no que estou pensando,
Porque o bem dele é que faça
Eu não ver que vai passando.
Vou na ribeira do rio
Que esta aqui ou ali
E do seu curso me fio
Porque, se o vi ou não vi,
Ele passa e eu confio, ele passa e eu confio,
ele passa e eu confio.
Não me digas mais nada, o resto é a vida
Sob onde a uva está amadurecida.
Moram meus sonhos que não querem nada,
Que é o mundo? Uma ilusão vista e sentida
Sob os ramos que falam com os ventos,
Inerte, abdico do meu pensamento.
Tenho esta hora e o ócio que está nela
Levem o mundo, deixem-se o momento.
Se vens esguia e bela, deitar vinho
Em meu copo vazio, eu, mesquinho.
Ante o sonho, morto de agradeço
Que não sou para mim mais que um vizinho.
Quando a jarra que trazes aparece
Sobre meu ombro e a sua curva desce.
Ao deitar vinho, sonho-te, e, sem ver-te
Por teu braço teu corpo me apetece.
Não digas nada que tu creias. Fala
Como a cigarra canta. Nada iguala
O ser um som pequeno entre os rumores
Com que este mundo.
A vida é terra e o viver é lodo,
Tudo é maneira, diferença ou modo
Em tudo quanto faças se só tu
Em tudo que faças se tu todo.
É Natal, tempo feliz
Nos semblantes risos de aniz
Reviver as emoções,
Venha a paz, muito amor,
Se mal fiz, mil perdões
Mitigar aflições,
Essa dor as paixões
Espantar crua solidão,
Entregar-se de coração,
É natal e o bem floresceu,
Tanto faz se não foi assim,
É natal, ilusões,
Ouro mel, a brilhar
Uma estrela no céu
Contemplar alva luz ao leu,
Luminosa na noite azul,
É natal e Jesus nasceu,
Tanto faz se não foi assim
É natal, ilusões,
Ouro mel a brilhar
Nova estrela no céu.
No mal estar em que vivo,
No mal pensar em que sinto,
Sou de mim mesmo cativo,
A mim mesmo minto
Se fosse outro fora outro
Se em mim houvesse certeza,
Não seria fluido e neutro
Que ama a beleza
Sim, que ama a beleza e a nega
Nesta vida sem bordão
Que contra si mesmo alega
Que tudo é vão.
Ai quando na noite sozinha, a janela
Com a face nas mãos eu te vejo, ao luar
Por que suspirando tu sonhas, donzela
A noite vai bela e a vista desmaia
Ao longe na praia, no mar
Por quem estas lágrimas orvalham- te os dedos
Como águas de chuva e cheiroso, jasmim
Na cisma que anjinhos te contam segredos
Que pálidos medos? Suave morena
Acaso tens pena de mim?
Acaso tens pena de mim?
O amor quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente...
Cala parece esquecer...
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!
Mas quem sente, muito cala
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...
Se eu morresse amanhã
Viria ao menos fechar meus olhos minha triste irmã
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã
Quanta glória pressinto em meu futuro
Que aurora de porvir e que manhã
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã
Que sol, que céu azul que doce nalva
Acorda a natureza mais louçã
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã
Mas essa dor da vida que devora
Ânsia de glória e dolorido afã
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã.
Il tuo dolce guardare
Que sorrirá, in tutti giornni que pássano
Staráno vicino a me
Come la luce nascente del infinito
Di notte cuando ritorni
Per la mattina, cuando ti svegli
A la luna, cuando sogni
I fiori, perfumato e incerto
Peró, si il tuo cuore dimenticherá
Io que voglio tanto bene,
Che nella solitudini de ti amanti,
Tuoi occhi póssano ricordarmi
Ricordarmi
Tuoi occhi póssano ricordarmi.
Ave maria gratia plena
Dominus tecum
Benedicta tu in mulieribus
Et benedicto fructus ventris
Tui Iesus
Sancta Maria Mater Dei
Ora pro nobis peccatóribus
Nunc, et in hora mortis nostrae
Amen
Ave Maria cheia de graça
O Senhor é convoso
Bendita tu entre as mulheres
E bendito o fruto de vosso ventre
Jesus
Santa Maria, mãe de Deus
Rogai por nós pecadores
Na hora de nossa morte
Amen.
Pai nosso que estais no céu
Santificado seja o vosso nome
Venha a nós o vosso reino
Seja feita a vossa vontade
Assim na terra como no céu
O pão nosso de cada dia
Nos dai hoje
Perdoai-nos as nossas ofensas
Assim como nós perdoamos
A quem nos tem ofendido
E não nos deixeis cair em tentação
Mas livrai-nos de todo mal
AMen
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d'expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças Marília bela,
Graças à minha estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os Pastores que habitam este monte,
Respeitam o poder do meu cajado:
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra que não seja minha.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que o meu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom minha Marília é bom ser dono
De um rebanho, que cobre monte e prado;
Porém gentil pastora, o teu agrado
Vale mais q'um rebanho, e mais q'um trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d'ouro;
Teu lindo corpo bálsamo vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela
Leve-me a sementeira muito embora
O rio sobre os campos levantado:
Acabe, acabe a peste matadora,
Sem deixar uma rês, o nédio gado.
Já destes bens, Marília, não preciso:
Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
Para viver feliz, Marília, basta
Que os olhos movas, e me dês um riso.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Irás a divertir-te na floresta,
Sustentada, Marília, no meu braço;
Ali descansarei a quente sesta,
Dormindo um leve sono em teu regaço:
Enquanto a luta jogam os Pastores,
E emparelhados correm nas campinas,
Toucarei os teus cabelos de boninas,
Nos troncos gravarei os teus louvores.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela
Depois que nos ferir a mão da morte,
Ou seja, neste monte ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dois na mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os Pastores:
"Quem quiser ser feliz nos seus amores,"
"siga os exemplos, que nos deram estes."
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela.
Pintam, Marília, os Poetas
A um menino vendado,
Com uma aljava de setas,
Arco empunhado na mão;
Ligeiras asas nos ombros,
O tenro corpo despido,
E de Amor e de Cupido
São os nomes que lhe dão.
Porém eu, Marília nego,
Que assim seja o Amor; pois ele
Nem é moço nem é cego,
Nem setas, nem asas tem.
Ora pois, eu vou formar-lhe
Um retrato mais perfeito,
Que ele já feriu meu peito;
Por isso o conheço bem.
Os seus compridos cabelos,
Que sobre as costas ondeiam,
São que os de Apolo mais belos;
Mas de loura cor não são.
Têm a cor negra da noite;
E com o branco do rosto
Fazem, Marília um composto
Da mais formosa união.
Tem redonda e linda testa,
Arqueadas sobrancelhas;
A voz meiga, a vista honesta,
E seus olhos são uns sóis.
Aqui vence o Amor ao Céu.
Que no dia luminoso
O Céu tem um Sol formoso,
E o travesso Amor tem dois.
Na sua face mimosa,
Marília, estão misturadas
Purpúreas folhas de rosa,
Brancas folhas de jasmim.
Dos rubins mais preciosos
Os seus beiços são formados;
Os seus dentes delicados
São pedaços de marfim.
Mal vi seu rosto perfeito
Dei logo um suspiro, e ele
Conheceu haver-me feito
Estrago no coração
Punha em mim os olhos quando
Entendia eu não olhava:
Vendo que o via, baixava
A modesta vista ao chão
Chamei-lhe um dia formoso:
Ele ouvindo os seus louvores,
Com um gesto desdenhoso
Se sorriu e não falou.
Pintei-lhe outra vez o estado,
Em que estava esta alma posta;
Não me deu também resposta
Constrangeu-se, e suspirou.
Conheço os sinais, e logo
Animado de esperança,
Busco dar um desafogo
Ao cansado coração.
Pego em teus dedos nevados,
E querendo dar-lhe beijo,
cobriu-se todo de pejo,
E fugiu-me com a mão.
Tu, Marília, agora vendo
De Amor o lindo retrato,
Contigo estarás dizendo,
Que é este o retrato teu.
Sim, Marília, a cópia é tua,
Que Cupido é Deus suposto:
Se há Cupido, é só teu rosto,
Que ele foi quem me venceu.
Não toques, minha Musa, não, não toques
Na sonorosa Lira,
Que às almas, como a minha, namoradas
Doces canções inspira:
Assopra no clarim, que apenas soa,
Enche de assombro a terra!
Naquele, a cujo som cantou Homero,
Cantou Virgilio a Guerra.
Busquemos, ó Musa,
Empresa maior;
Deixemos as ternas
Fadigas de Amor.
Eu já não vejo as graças, de que forma
Cupido o seu tesouro;
Vivos olhos e faces cor-de-rosa,
Com crespos fios de ouro.
Busquemos, ó Musa,
Empresa maior;
Deixemos as ternas
Fadigas de Amor
Cantemos o herói, que já no berço
As serpes despedaça;
Que fere os Cacos, que destrona as hidras;
Mais os leões que abraça.
Cantemos, se isto é pouco, a dura guerra
Dos Titães, e Tifeus,
Que arrancam as montanhas, e atrevidos
Levam armas aos Céus.
Busquemos, ó Musa
Empresa maior
Deixemos as ternas
Fadigas de Amor.
Anima pois, ó Musa, o instrumento,
Que a voz também levanto,
Porém tu deste muito acima o ponto,
Dirceu não sobe tanto:
Abaixa, minha Musa, o tom, qu'ergueste;
Eu já, eu já te sigo.
Mas, há! Vou a dizer Herói, e Guerra,
E só Marília digo.
Deixemos, ó Musa,
Empresa maior;
Só posso seguir-te
Cantando de Amor.
Feres as cordas d'ouro? Ah! Sim, agora
Meu canto já se afina:
E a humana voz parece que ao som delas
Se faz também divina.
O mesmo, que cercou de muro a Tebas,
Não canta assim tão terno;
Nem pode competir comigo aquele,
Que desceu ao negro Inferno.
Deixemos, ó Musa,
Empresa maior;
Só posso seguir-te
Cantando de Amor
Mal repito Marília, as doces aves
Mostram sinais de espanto;
Erguem os colos, voltam as cabeças,
Param o ledo canto:
Move-se o tronco, o vento se suspende;
Pasma o gado, e não come:
Quando podem meus versos! Quanto podem
Só de Marília o nome
Deixemos, ó Musa,
Empresa maior;
Só posso seguir-te
Cantando de Amor
Vídeos do Gonzaga Pinto
Dorme sobre o meu seio,
Sonhando de sonhar...
No teu olhar eu leio
Um lúbrico vagar.
Dorme no sonho de existir
E na ilusão de amar
Tudo é nada, e tudo
Um sonho finge ser.
O ‘spaço negro é mudo.
Dorme, e, ao adormecer,
Saibas do coração sorrir
Sorrisos de esquecer.
Dorme sobre o meu seio
Sem mágoa nem amor...
No teu olhar eu leio
O íntimo torpor
De quem conhece o nada-ser
De vida e gozo e dor.
Não, não digas nada
Supor o que dirá
A tua boca velada
E ouvi-lo já
É ouvi-lo melhor
Do que o dirias
O que és não vem à flor
Das frases e dos dias.
És melhor do que tu
Não dias nada, sê!
Graça do corpo nu
Que invisível se vê
Dorme que a vida é nada!
Dorme que tudo é vão!
Se alguém achou a estrada,
Achou-a em confusão,
Coma alma enganada.
Não há lugar nem dia
Para quem quer achar,
Nem paz nem alegria
Para aquém, por amar,
Em quem ama confia.
Melhor entre onde os ramos
Tecem dosséis sem ver
Ficar como ficamos,
Sem pensar nem querer
Dando o que nunca damos
Ditosos a quem acena
Um lenço de despedida
São felizes: tem pena...
Eu sofro sem pena a vida
Dôo-me até onde penso
E a dor é já de pensar
Órfão de um sonho suspenso
Pela maré a vazar
E sobe até mim já farto
De improfícuas agonias,
No cais de onde nunca parto,
A maresia dos dias. A maresia dos dias
Quando eu me sento à janela
P’los vidros que a neve embaça
Vejo a doce imagem dela
Quando passa... passa... passa...
Lançou-me a mágoa seu véu
Menos um ser neste mundo
E mais um anjo no céu.
Quando eu me sento à janela,
P’los vidros que a neve embaça
Julgo ver a imagem dela
Que já não passa... não passa
No ouro sem fim da tarde morta
Na poeira de ouro sem lugar
Da tarde que me passa á porta
Para não parar
No silêncio dourado ainda
Dos arvoredos verde fim,
Recordo. Eras antiga e linda
E estás em mim...
Tua memória há sem que houvesses,
Teu gesto, sem que fosses alguém.
Como uma brisa me estremeces
E eu choro um bem...
Perdi-te. Não te tive. A hora
É suave para a minha dor.
Deixa meu ser que rememora
Sentir o amor,
Ainda que amar seja um receio,
Uma lembrança falsa e vã,
E a noite deste vago anseio
Não tenha manhã
Contemplo o que não vejo.
É tarde, é quase escuro,
E quanto em mim desejo
Está parado ante o muro.
Por cima o céu é grande;
Sinto árvores além;
Embora o vento abrande,
Há folhas em vaivém.
Tudo é do outro lado,
No que há e no que penso.
Nem há ramo agitado
Que o céu não seja imenso.
Confunde-se o que existe
Com o que durmo e sou.
Não sinto, não sou triste.
Mas triste é que o estou
Por que é que um sono agita
Em vez de repousar
O que em minha alma habita
E a faz não descansar?
Que externa sonolência,
Que absurda confusão,
Me oprime sem violência,
Me faz ver sem visão?
Entre o que vivo e a vida,
Entre quem estou e sou,
Durmo numa decida,
Descida em que não vou.
E, num infiel regresso
Ao que já era bruma,
Sonolento me apresso
Para coisa nenhuma.
Bóiam leves, desatentos,
Meus pensamentos de mágoa,
Como, no sono dos ventos,
As algas cabelos lentos
Do corpo morto das águas.
Bóiam como folhas mortas
À tona de águas paradas.
São coisas vestindo nadas,
Pós remoinhando nas portas
Das casas abandonadas.
Sono de ser, sem remédio,
Vestígio do que não foi,
Leve mágoa, breve tédio,
Não sei se pára, se flui;
Não sei se existe ou se dói.
Paira à tona de água
Uma vibração
Há uma vaga mágoa
No meu coração
Não é porque a brisa
Ou o que quer que seja
Faça esta indecisa
Vibração que adeja
Nem é porque eu sinta
Uma dor qualquer.
Minha alma é indistinta
Não sabe o que quer.
É uma dor serena,
Sofre porque vê,
Tenho tanta pena!
Soubesse eu de quê!...
Treme em luz a água
Mal vejo. Parece
Que uma alheia mágua
Na minha alma desce
Mágoa erma de alguém
De algum outro mundo
Onde a dor é um bem
E o amor é profundo
E só punge ver
Ao longe, iludida
A vida a morrer
O sonho da vida
Qualquer música, ah qualquer,
Logo que me tire da alma
Esta incerteza que quer
Qualquer impossível calma!
Qualquer música – guitarra,
Viola, harmônio realejo...
Um campo que se desgarra...
Um sonho em que nada vejo...
Qualquer coisa que não vida!
Jôta, fado, a confusão
Da última dança vivida...
Que eu não sinta o coração
Que coisa distante
Está perto de mim?
Que brisa fragrante
Me vem neste instante
De ignoto jardim
Se alguém mo dissesse,
Não quisera crer.
Mas sinto-o, e é esse
O ar bom que me tece
Visões sem as ver.
Não sei se é dormindo
Ou olheado que estou:
Sei que estou sentindo
A boca sorrindo
Aos sonhos que sou
Quando as crianças brincam
E eu as oiço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar
E toda aquela infância
Que não tive me vem,
Numa onde de alegria
Que não foi de ninguém
Se quem fui é enigma
E que serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isso no coração
Árvore verde,
Meu pensamento
Em ti se perde
Ver é dormir
Nesse momento
Que bom não ser
Stando acordado
Também em mim enverdecer
Em folhas dado!
Tremulamente
Sentir seu corpo
Brisa na alma!
Não ser quem sente,
Mas tem a calma
Eu tinha um sonho
Que me encantava
Se a manhã vinha
Como eu a odiava!
Volvia a noite,
E o sonho em mim,
Era o meu lar,
Minha alma afim.
Depois perdi-o.
Lembro? Quem dera!
Se eu nunca soube
O que ele era.
Quando eu era criança
Vivi sem saber,
Só para hoje ter
Aquela lembrança
É hoje que sinto
Aquilo que fui.
Minha vida flui,
Feita do que minto
Mas nesta prisão,
Livro único que leio
O sorriso alheio
De quem fui então.
Teus olhos entristecem.
Nem ouves o que digo.
Dormem, sonham, esquecem...
Não me ouves, e prossigo.
Digo o que já de triste,
Te disse tanta vez...
Creio que nunca o ouviste
De tão tua que és.
Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente
Começas um sorriso
Continuo a falar.
Continuas ouvindo
O que estás a pensar,
Já quase não sorrindo.
Até que neste ocioso
Sumir da tarde fútil,
Se esfolha silencioso
O teu sorriso inútil.
Entre o sono e o sonho,
Entre mim e o que em mim
É o quem eu me suponho,
Corre um rio sem fim.
Passou por outras margens,
Diversas mais além,
Naquelas várias viagens
Que todo o rio tem.
Chegou onde hoje habito
A casa que hoje sou.
Passa, se eu me medito;
Se desperto, passou.
E quem me sinto e morre
No que me liga a mim
Dorme onde o rio corre –
Esse rio sem fim.
Contemplo o lago mudo
Que uma brisa estremece.
Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece
O lago nada me diz,
Não sinto a brisa mexê-lo
Não sei se sou feliz
Nem se desejo sê-lo.
Trêmulos vincos risonhos
Na água adormecida.
Por que fiz eu dos sonhos
Da minha única vida?
A morte chega cedo,
Pois breve é toda a vida
O instante é o arremedo
De uma coisa perdida.
O amor foi começado,
O ideal não acabou,
E quem tenha alcançado
Não sabe o que alcançou
E a tudo a isto a morte
Risca por não estar certo
No caderno da sorte
Que Deus deixou aberto
Que Deus deixou aberto
Quem bate em minha porta
Tão insistentemente
Saberá que está morta
A alma que em mim sente?
Saberá que eu a velo
Desde que a noite é entrada
Com o vácuo e vão desvelo
De quem não vela nada?
Saberá que estou surdo?
Porque o sabe ou não sabe
E assim bate, ermo e absurdo,
Até que o mundo acabe?
De Álvares de Azevedo
Se eu morresse amanhã
Viria ao menos fechar meus olhos minha triste irmã
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã
Quanta glória pressinto em meu futuro
Que aurora de porvir e que manhã
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã
Que sol, que céu azul que doce nalva
Acorda a natureza mais louçã
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã
Mas essa dor da vida que devora
Ânsia de glória e dolorido afã
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã.
Vaga no azul amplo solta,
Vai uma nuvem errando.
O meu passado não volta.
Não é o que estou chorando.
O que choro é diferente
Entra mais na alma da alma.
Mas como no céu sem gente,
A nuvem flutua calma
E isto lembra uma tristeza
E a lembrança é que entristece,
Dou à saudade a riqueza
De emoção que a hora tece.
Mas, em verdade, o que chora
Na minha amarga ansiedade
Mais alto que a nuvem mora,
Está para além da saudade.
Não sei o que é nem consinto
À alma que o saiba bem.
Visto da dor com que minto
Dor que a minha alma tem.
Ah! se soubesses do tempo que foi minha tristeza
Ah! se soubesses do tempo que foi meu desamor
Voltarias nos braços do tempo
Que levou este triste lamento
Nesse dia a tristeza morria
E me deixava em paz.
Gonzaga Pinto
Dorme enquanto eu velo
Deixa-me sonhar...
Nada em mim é risonho,
Quero-te para o sonho,
Não para te amar
A tua carne calma
É fria em meu querer
Os meus desejos são cansaços.
Nem quero ter nos braços
Meu sonho do teu ser.
Dorme, dorme, dorme,
Vaga em teu sorrir...
Sonho-te tão atendo
Que o sonho é encantamento
E eu sonho sem sentir
Põe-me as mãos nos ombros...
Beija-me na fronte...
Minha vida é escombros,
A minha alma insonte (pura)
Eu não sei porquê,
Meu desde onde venho,
Sou o ser que vê,
E vê tudo estranho.
Põe a tua mão
Sobre meu cabelo...
Tudo é ilusão.
Sonhar é sabê-lo.
O sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro de minha alma
E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.
Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho.
Soas-me na alma distante
A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado,
Sinto a saudade mais perto.
Pobre velha música!
Não sei por que agrado,
Enche-se de lágrimas
Meu olhar parado.
Recordo outro ouvir-te,
Não sei se te ouvi
Nessa minha infância
Que me lembra em ti.
Com que ânsia tão raiva
Quero aquele outrora!
E eu era feliz? Não sei:
Fui-o outrora agora.
Como a noite é longa!
Toda a noite é assim
Senta-te, ama, perto
Do leito onde esperto
Vem p’r’ao pé de mim
Amei tanto cousa...
Hoje nada existe
Aqui ao pé da cama
Canta-me, minha ama,
Uma canção triste
Era uma princesa
Que amou... já não sei...
Como estou esquecido!
Canta-me ao ouvido
E adormecerei...
Que é feito de tudo?
Que fiz eu de mim?
Deixa-me dormir
Dormir a sorrir
E seja isto o fim
Não toques, minha Musa, não, não toques
Na sonorosa Lira,
Que às almas, como a minha, namoradas
Doces canções inspira:
Assopra no clarim, que apenas soa,
Enche de assombro a terra!
Naquele, a cujo som cantou Homero,
Cantou Virgilio a Guerra.
Busquemos, ó Musa,
Empresa maior;
Deixemos as ternas
Fadigas de Amor.
Eu já não vejo as graças, de que forma
Cupido o seu tesouro;
Vivos olhos e faces cor-de-rosa,
Com crespos fios de ouro.
Busquemos, ó Musa,
Empresa maior;
Deixemos as ternas
Fadigas de Amor
Cantemos o herói, que já no berço
As serpes despedaça;
Que fere os Cacos, que destrona as hidras;
Mais os leões que abraça.
Cantemos, se isto é pouco, a dura guerra
Dos Titães, e Tifeus,
Que arrancam as montanhas, e atrevidos
Levam armas aos Céus.
Busquemos, ó Musa
Empresa maior
Deixemos as ternas
Fadigas de Amor.
Anima pois, ó Musa, o instrumento,
Que a voz também levanto,
Porém tu deste muito acima o ponto,
Dirceu não sobe tanto:
Abaixa, minha Musa, o tom, qu'ergueste;
Eu já, eu já te sigo.
Mas, há! Vou a dizer Herói, e Guerra,
E só Marília digo.
Deixemos, ó Musa,
Empresa maior;
Só posso seguir-te
Cantando de Amor.
Feres as cordas d'ouro? Ah! Sim, agora
Meu canto já se afina:
E a humana voz parece que ao som delas
Se faz também divina.
O mesmo, que cercou de muro a Tebas,
Não canta assim tão terno;
Nem pode competir comigo aquele,
Que desceu ao negro Inferno.
Deixemos, ó Musa,
Empresa maior;
Só posso seguir-te
Cantando de Amor
Mal repito Marília, as doces aves
Mostram sinais de espanto;
Erguem os colos, voltam as cabeças,
Param o ledo canto:
Move-se o tronco, o vento se suspende;
Pasma o gado, e não come:
Quando podem meus versos! Quanto podem
Só de Marília o nome
Deixemos, ó Musa,
Empresa maior;
Só posso seguir-te
Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,
Que viva de guardar alheio gado;
De tosco trato, d'expressões grosseiro,
Dos frios gelos, e dos sóis queimado.
Tenho próprio casal, e nele assisto;
Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;
Das brancas ovelhinhas tiro o leite,
E mais as finas lãs, de que me visto.
Graças Marília bela,
Graças à minha estrela!
Eu vi o meu semblante numa fonte,
Dos anos inda não está cortado:
Os Pastores que habitam este monte,
Respeitam o poder do meu cajado:
Com tal destreza toco a sanfoninha,
Que inveja até me tem o próprio Alceste:
Ao som dela concerto a voz celeste;
Nem canto letra que não seja minha.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Mas tendo tantos dotes da ventura,
Só apreço lhes dou, gentil Pastora,
Depois que o meu afeto me segura,
Que queres do que tenho ser senhora.
É bom minha Marília é bom ser dono
De um rebanho, que cobre monte e prado;
Porém gentil pastora, o teu agrado
Vale mais q'um rebanho, e mais q'um trono.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Os teus olhos espalham luz divina,
A quem a luz do Sol em vão se atreve:
Papoula, ou rosa delicada, e fina,
Te cobre as faces que são cor de neve.
Os teus cabelos são uns fios d'ouro;
Teu lindo corpo bálsamo vapora.
Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,
Para glória de Amor igual tesouro.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela
Leve-me a sementeira muito embora
O rio sobre os campos levantado:
Acabe, acabe a peste matadora,
Sem deixar uma rês, o nédio gado.
Já destes bens, Marília, não preciso:
Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;
Para viver feliz, Marília, basta
Que os olhos movas, e me dês um riso.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela!
Irás a divertir-te na floresta,
Sustentada, Marília, no meu braço;
Ali descansarei a quente sesta,
Dormindo um leve sono em teu regaço:
Enquanto a luta jogam os Pastores,
E emparelhados correm nas campinas,
Toucarei os teus cabelos de boninas,
Nos troncos gravarei os teus louvores.
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela
Depois que nos ferir a mão da morte,
Ou seja, neste monte ou noutra serra,
Nossos corpos terão, terão a sorte
De consumir os dois na mesma terra.
Na campa, rodeada de ciprestes,
Lerão estas palavras os Pastores:
"Quem quiser ser feliz nos seus amores,"
"siga os exemplos, que nos deram estes."
Graças, Marília bela,
Graças à minha Estrela
Pintam, Marília, os Poetas
A um menino vendado,
Com uma aljava de setas,
Arco empunhado na mão;
Ligeiras asas nos ombros,
O tenro corpo despido,
E de Amor e de Cupido
São os nomes que lhe dão.
Porém eu, Marília nego,
Que assim seja o Amor; pois ele
Nem é moço nem é cego,
Nem setas, nem asas tem.
Ora pois, eu vou formar-lhe
Um retrato mais perfeito,
Que ele já feriu meu peito;
Por isso o conheço bem.
Os seus compridos cabelos,
Que sobre as costas ondeiam,
São que os de Apolo mais belos;
Mas de loura cor não são.
Têm a cor negra da noite;
E com o branco do rosto
Fazem, Marília um composto
Da mais formosa união.
Tem redonda e linda testa,
Arqueadas sobrancelhas;
A voz meiga, a vista honesta,
E seus olhos são uns sóis.
Aqui vence o Amor ao Céu.
Que no dia luminoso
O Céu tem um Sol formoso,
E o travesso Amor tem dois.
Na sua face mimosa,
Marília, estão misturadas
Purpúreas folhas de rosa,
Brancas folhas de jasmim.
Dos rubins mais preciosos
Os seus beiços são formados;
Os seus dentes delicados
São pedaços de marfim.
Mal vi seu rosto perfeito
Dei logo um suspiro, e ele
Conheceu haver-me feito
Estrago no coração
Punha em mim os olhos quando
Entendia eu não olhava:
Vendo que o via, baixava
A modesta vista ao chão
Chamei-lhe um dia formoso:
Ele ouvindo os seus louvores,
Com um gesto desdenhoso
Se sorriu e não falou.
Pintei-lhe outra vez o estado,
Em que estava esta alma posta;
Não me deu também resposta
Constrangeu-se, e suspirou.
Conheço os sinais, e logo
Animado de esperança,
Busco dar um desafogo
Ao cansado coração.
Pego em teus dedos nevados,
E querendo dar-lhe beijo,
cobriu-se todo de pejo,
E fugiu-me com a mão.
Tu, Marília, agora vendo
De Amor o lindo retrato,
Contigo estarás dizendo,
Que é este o retrato teu.
Sim, Marília, a cópia é tua,
Que Cupido é Deus suposto:
Se há Cupido, é só teu rosto,
Que ele foi quem me venceu.
Alguns improvisos do Gonzaga Pinto
Letra e Música Gonzaga
Toco teus cabelos, roubo-te um beijo apressado
Ficas surpresa de mim, foges de meus desvelos.
Por entre carros e luzes, em meio aos atropelos
Meu coração diz que sim, bate descompassado
Procuro pelas esquinas, nos luminosos dos bares
Mas na Paulista, as meninas e seus olhares,
Sonhando passo por elas, não me dão vontade
No Astor vejo um perfil percebo suavidade
Abordo o vulto e o abraço, a pele é pura seda
Sorriso doce, nos lábios, na expressão maldade
Fogo fugaz na solidão, convite às alamedas.
Abre-me os braços, somos dois desejos
Louco de paixão, em rubros beijos,
Mas foi tudo uma ilusão, as ruas são veredas.
É Natal, tempo feliz,
Nos semblantes risos
De aniz
Reviver as emoções
Venha a paz
Muito amor
Se mal fiz
Mil perdões
Mitigar aflições
Essa dor, as paixões.
Espantar crua solidão
Entregar-se de coração
É Natal e o bem floresceu
Tanto faz se não foi assim
É Natal, ilusões
Ouro-mel
A brilhar, nova estrela no céu
Contemplar alva luz ao léu
Luminosa na noite azul
É Natal e Jesus nasceu
Tanto faz se não foi assim
É Natal, ilusões
Ouro-mel
A brilhar, uma estrela no céu.
Álvares de Azevedo
Ai! Quando de noite, sozinha à
Janela,
Com a face na mão eu te vejo ao
Luar
Porque, suspirando, tu sonhas
Donzela?
A noite vai bela,
E a vista desmaia
Ao longe na praia
No mar!
Por quem esta lágrima orvalha-te
Os dedos,
Como água de chuva e cheiroso
Jasmim?
Na Cisma que anjinho te conta
Segredos?
Que pálidos medos?
Suave morena
Acaso tens pena
De mim?
de Mario Jorge poeta pernambucano, já falecido.
Ah como são verdes
Os espaços em branco
De minha alma
Ah como são verdes
Os terríveis barrancos
Dessa calma
Ah, como são verdes
Os maduros frutos
Deste meu natal
Arcazul, arcajú
Se não se sim
Caminhos do sul
Não são pra mim.
Pencas de sol nesta paisagem
Fantasmas de folhas murmurantes
Aonde o vento eterno
Habita-se
Arcazul, arcajú
Se não se sim
Caminhos do sul
Não são pra mim
Silêncios de verdes prados
Nos olhos secos do amor
O grito se fez pecado
No ego que sei não sou
Arcazul, arcajú
Senão se sim
Caminhos do sul
Não são pra mim
Posso escrever os versos tristes esta noite
Escrever por exemplo: "A noite está estrelada
E tiritam, azuis, os astros à distância
Gira o vento da noite pelo céu e canta
Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Eu a quis e por vezes ela também me quis
Eu a tive em meus braços em noites como esta
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito
Ela me quis e às vezes eu também a queria
Como não ter amado seus grandes olhos fixos
Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi
Ouvir a noite imensa, mas imensa sem ela
E desce o verso à alma como ao campo o rocio
Que importa se não pôde o meu amor guardá-la
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. À distancia alguém canta. À distância
Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Como para cercá-la meu olhar a procura
Meu coração a busca, ela não está comigo
A mesma noite faz branquear as mesmas árvores
Já não somos os mesmos, nos os de outros dias
Já não quero, é certo, quanto a quis no entanto
Minha voz ia no vento para alcançar-lhe o ouvido
De outro. Sera de outro. Como antes dos meus beijos
Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos
Já não a quero, é certo, porém talvez a queira
Ai, é tão breve o amor e tão extenso o olvido
Porque em noites como esta eu a tive em meus braços,
Minha alma se exaspera por havê-la perdido.
Mesmo sendo esta a última dor que ela me cause
E estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito
Algumas canções sob poemas