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Conheça as Canções sobre Poemas do Gonzaga Pinto

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Aprecie os Poemas, Canções de Amores, Rancores e as Canções sobre Poemas de Poetas Vários

Índice geral

Versos dos Anos de Chumbo

Canções e Poemas

O filho Pródigo

Quando não me sabia

Era feliz e não maldizia

As incertezas desta vida tola

Era mais sombra do que a imagem fria

Que sou e que não queria

Impotente nesta dança anômola

De estupros, torturas, selvageria,

Que fez de meu irmão no fim do dia

Algoz, carrasco, a grande mola

Das tristezas da mãe

Que sempre espera

Que um dia a casa torne

Pois ele ao sair

Não lhe beijou as faces

Dizendo num sorriso

Largo, tranquilo e pleno

Que voltaria?

Ode para Sobral Pinto

Um tribuno, olhos tristes atentos no presente

Perscrutam buliçosos desafiantes a vil soberania

Em, riste a ríspida palavra cobre de vergonha a quem resiste

E nomeia quem devera nunca ser nomeado

Por atos quase sempre lamentados

Mas impunes, tantas são as garantias de uma lei

sem data e sem limite que

permite a poucos decidir por todos

e o Santo Quixote lança-se contra moinhos

que não são de vento

e toca na ferida espada aguda

que não lanceta a pele apenas

mas escombros de quem já fora um dia

ser humano.

A palavra honrada e destemida

Vergasta a quem no opróbrio

Fez da indecência o bem da vida

E diz o diabo a todos que se vergam

Em silêncio sem resposta

Ao fluente linguajar da gente justa.

Ato de Contrição

Nós, civis, somos vis

E senis,

Esbofeteiam-nos a outra face damos

Aos amos que não amamos.

Nós, civis, somos vis

E senis

Escondemo-nos por detrás das letras

Temerosos de nossas fraquezas e história

Sem futuro e sem glória

Nós, civis, somos vis

E senis

Apoiamo-nos no medo de uma perda incerta

Repudiamos a lei que a todos acoberta

Por uma outra que nos lança no opróbrio

Que nos devora

A alma e o pensamento

Nós, civis, somos vis

E senis

Contristamo-nos com o arbítrio dos poderosos

Que nos proíbe a fala e o respiro

Mas nos deixa na ilusão

De um belo tempo de porvir tedioso

No silêncio

Circunstâncias

Vida, lento caminho

A custo faz o ninho

Volta, cirandas, reviravoltas

Espirais, instantes, redemoinho

Desfaz o quanto construído

Vaga lembrança, memória,

Sol, mansa luz, estrela do céu

O tempo, esse nada e tudo,

Evola o ser que foi

E se fez mudo



A procura de...

Sapatos gastos

Gestos comuns na ronda tola

A pele desbotada roça as rendas

De uma prostituta esvoaçante

Provocam idéias, desejos, medos, alegria,

Um passo apenas, uma oferta

A transação se finda


Caminham lentos em tão ausentes passos

Apenas, corpos marcham

Tortos

Pelas avenidas

Em direção ao norte

De uma grama fria

Cinzentas sombras

Num relento estreito

Gemem num prazer à luz do fim

Da noite

Enganam-se os amantes

Mas quem sabe um dia...


Taumaturgos

Traçou no espaço manchas invisíveis

Subliminares

No ziguezaguear dos braços e das mãos

Bêbados, atônitos, os homens o seguiram

Cães e dono (ovelhas e Pastor?)

Vias tortuosas percorrem: penhascos, charnecas,

Granizos cristalinos gretaram-lhes a

Pele em dor até ao infinito

Nem a febre dos tórridos desertos

Sequer o frio do polar poente

Desviaram-lhes do rumo ao destino incerto

Mataram-se ou mataram quando aprouve ao Guia.

Nesuno

E vieram a preguiça e a contemplação

Vadias e vazias

Cogito inquietantes abissais sentimentos

No fundíssimo sem luz

Volto-me para obscuros temas que não defino

No ácido humor de irreverências catastróficas

Consola-me o inamovível tédio cotidiano

Do ir e vir

Os rascunhos de poemas incognoscíveis

Exalados dos escaninhos do inconsciente:

Passado difuso,

Presente premonitório

Futuro desfacelante

Ou o que seja lá a mais exata inencontrável

Palavra

O desconstruído anima o que virá

O tempo na sua inexorabilidade projeta o irrecuperável

Misterioso o tempo, incoquistável em sua velocidade

Guerreira

Inquestionável nas decisórias rotas contrastantes a

Moverem-se

Nos desvãos de espaços das múltiplas e milionais

sombras

as palavras, ah, as palavras, restam cândidas em lábios,

revividas sempre.

Os livros, ato de vida e de eternidade, compostos das

Ilusões

De cérebros muito atentos em miseráveis elucubrações

Sobre esses agitados passageiros da dor e da morte

E quanto passatempo.

Cinismo

Um dia, de mim desesperei

E não mais vi sequência no futuro

Como o burguês dando sentido à sua vida

Não me fazia feliz o dinheiro

Como o policial em seu rude ofício,

Não me fazia feliz a violência.

Como o juiz em dia de graça

Não me fazia feliz a justiça.

Como cristãos de priscas eras

Não me fazia feliz o amor ao próximo.

Como o político vitorioso

Não me fazia feliz o poder

Como o reformador do mundo

Não me fazia feliz o fuzil

Como o imbecil esquecido

Não me fazia feliz a ignorância.

Então resolvi ligar a vitrola

Para ouvir um tango argentino

Mas esse som me lembrou

Os versos "Pneumotórax" do Bandeira

E me vi pouco original

Nas minhas dores.


Rua Direita

Incerta caminha a multidão na linha do infinito

Gestos vagos, passos apressados,

Eternas expressões

De leve dor imensa, exprimem-se nos olhos

As frias opressões

E a multidão vagueia sem destino

Imensa solidão

O nada sempre certo

Nas finas ilusões


E a multidão caminha em desespero na busca

Disto, daquilo, daquilo outro.

E a multidão espia, cheira, apalpa, veste, retira

E não descobre:

- "Venha Jandira, venha ver que belo por-de-sol neste tecido?"

Sussurra João no pé de um sei bem fornido

De um lindo manequim de pernas bem torneadas.


E voa a girândola da sorte equilibrada

Em quatro, cinco, zero nas mãos do vendedor

E a multidão se encontra, se choca e não se vê

Mas deseja um não se sabe o quê...

Um Perfil

Os olhos volúveis não são

Como os lábios maldizentes

Que azucrinam

E que mentem.

Os olhos soberbos seriam jamais

Como o queixo

Prolongamento triangular

Do nosso rosto

Que murcham num desgosto

Qualquer em cada esquina.

Omissos, os olhos

não serão como o nariz

mostrengo estático e antiestético

da face fria e nua dos sem destino

nunca rude serão os olhos

que envelhecem

o rosto com vincos mais profundos

das frontes já vencidas

pela faina, cansaço e tempo?

Ângelus

Súbito, fez-se a luz

Nos vitrais das catedrais

O brilho agudo do sol transpassa

Os gestos serenos que anunciam

Tempo e momento sacros

Sólidas mãos em prece

Eternamente sós no vítreo pigmento colorido

Das faces contrafeitas no silêncio,

O juízo perfeito.


Dá-se que o sorriso

Não se via

No semblante calmo da guria

Tremendo barato a aventura

Delírio só no rebrilhar de imagens

E luzes

Recostada e tesa no acento liso

Furacão nos seios e o sexo

Voando cândida incansada

Nas ruas que se perdem na distância

Do fluxo do tempo, do alfa e omega

Do nada.

Idade de ouro

Dourado o passado

Perturba-nos senão

O eco que se atura

Pois o tempo o depura

Filtrado na (in)consciência?

Sabe-nos dolência pura

Maravilhosas efemérides

Projetadas na memória

Movem-nos transidos

Mitificas lembranças da história

Lúdicos e gozosos mistérios


Proxenetas das rosas


Poe-talhos, arquitetos de

Verticais orações

Metrificadas e geométricas

Formas feitas de, às vezes,

Canções,

Construtores do asco

Nos abismos dos penhascos

Catadores de pulgões-parasitas

Do tédio, sem remédio

Proxenetas das rosas

E jasmins

Venham chorar por mim

E meus amores.

Miscelânea

Canções e Poemas

Canções e Poemas

Uma canção caipirosa

Vou comendo o pó da estrada

Feito cachorro sem dono

Se foi meu preto alazão

Perdi-o num carteado danado

Birita pra todo lado

Nas bandas do Riachão

Quando chegou madrugada

Com a lua no fim da estrada

Não me sobrou um tostão

Joguei o jogo jogado

Lancei meu preto dobrado

Pra resolver a questão

E la se foi meu cavalo

Em pêlo nobre brilhado

Das rédeas da minha mão

Ele me olhou de mansinho

Lhe fiz um breve carinho

Não me deu mais atenção.

Amizade

Magníficos são os frutos da amizade

Suaves favos de mel

Da vida adoçando o fel

Epifania na lembrança e na saudade


Ainda que distante recorda o coração

Os dias de convívio

Indo-se muitos aos depois

Por caminhos ínvios


Então, em meio as tempestades

Tantas e tantas nesta vida vária

Não estamos sós

Se no peito dos amigos

Resta aconchegante abrigo

E sua voz solidária


Ao amigos Pedro, Iara, Alice, Beatriz, Antonia, Rose, Cecília, Viviani

Poema Concreto

Vazio, o vaso não tem viço

O sorriso vivo sem siso, liso

A alcachofra refogada atiço

Olhos vermelhos ais, o cisco,

Terno gabardine eu o trisco

O Coração e desamores arrisco

Priscas eras, nas curvas do obelisco


Maviosas são as sinfonias sânscritas

Amáveis beethovens, gestos cômicos

Os Franzs Schuberts, os Lieder agônicos

Barrocos musicistas, em violinos lânguidos

Ai violas e fagotes dos Poulencs cândidos

Trepidam duros sons em ouvidos quânticos

Românticos

Jumênticos

Autênticos


Solstício de verão, propício, correm clepsidras

Tempo nessa luz, o despertar na crista da hidra,

Roubando ao sono eterno desejado pelas pedras,

Rolando sempiternas poeira marchetando Fedra

Asfixiada de remorsos suicidas. Agora elas medram

Na mente de Teseu, a fúria desse grego, belas regras

Dos rapsodos dos engodos, troianas rapinas e negras.

Um soneto de Quantos Natais

Foram-se os natais de nossa ignorada infância

Ficaram deles retalhos de saudade na lembrança

As guirlandas às portas, os mimos, a azul e mansa

E doce noite de criança-anil, vivendo na distância


Foram-se os natais de nossa gris adolescência

Quando a inocência abalada quase extinguia

em face do vago mundo novo que nos compungia

e éramos então sofridos e sozinhos na demência


Foram-se os natais de nossa prisca madurez

E sobre a mesa os desafios da vida e do talvez

Amenizavam-se nos risos e no brilho dos cristais


Hoje, percorrido os caminhos de tantos natais

Quando a trôpega jornada abriu-nos cicatrizes

Buscamos num canto da memória os dias mais felizes

Carta à cara amiga Beatriz

Saudade do tempo feliz

Que se fez lembrança

e do convívio

Que se fez oblívio


Saudade das canções

Que se fizeram silêncio

E da amizade

Que se fez adversidade


Saudade dos sorrisos

Que se fizeram ânsias

E dos amigos

Que se fizeram distância


Saudade do fogo das paixões

Que de há muito se fez raro

E do fiel companheirismo

Que se fez desamparo


Saudade das confraternizações

Que se fizeram solidão

E das alegres reuniões

Que se fizeram altercações


Saudade, enfim, da luta renhida

Da tarefa impossível de educadores

Que nos fazia enfrentar

Os dissabores da profissão e vida


Que a saudade e as lembranças pois

De nossos tempos idos

Dêem-nos força e coragem

Para enfrentar a dor


Da qual ser humano algum

Deixou de ser acometido

Como provação de uma

Existência mal ou bem vivida


posto que, aceitemos ou não,

Num tal momento inesperado

A lacerante coroa de espinhos e a

pesada cruz a cada um é conferida

Canções

Canções e Poemas

As mães da Praça de Maio

(em memória de mães e avós argentinas que tiveram seus filhos sequestrados e mortos pela ditadura militar)

Letra e Música Gonzaga - Piano Iara Navas


Claras marcas de um tempo,

Vento sempre gentil,

Vêm trazendo saudade neste abril

De um passado distante,

Quem te viu?

Onde a voz era um canto

Que sumiu

Em lugar muito espanto

Se sentiu.


Gente que não volta mais,

Sombra de vidas fatais

Nas emoções

Mães a chorar pelos filhos seus


Chora, feche as suas cicatrizes,

Ilusões fazem felizes,

Velhos corações


Canta, inda resta uma lembrança

Nas visões sem esperança

Desta vida atroz

Á Lucia

(dedicado a muito amada esposa)

Partituras: 01 - 02

Letra e música - Gonzaga


Quando os teus passos suaves

Entre as acácias

Flutuam leves, buscando-me

Ah, quanto amor

Repousas tão docemente

Quase uma flor


E a lua em teus cabelos

Na noite clara

É renda rara

A te agasalhar,

Vivo um sonhar

Nas estrelas matutinas teu lindo olhar


Amoras nos teus lábios provo são doçuras,

Esse mel espanta as desventuras

Ternura sensual segredo dos amantes

Guardando a eternidade dos instantes

No coração,

Os dias de ventura,

De paixão.

Quando te conheci, amada Lúcia

Letra e Música Gonzaga - Piano Iara Navas


Quanto sorrir, ao te avistar

E eras só encanto

Envolta no luar

Na noite azul

Mirei-te em vão

Pois não notaste logo

Este meu coração.


Preso de espanto e num sonhar

Dizendo só pra mim

Hoje serás feliz,

Feitiço bom

Estrela da manhã

Que porá fim

Nesta vida malsã


Tirei-te pra dançar

Disseste sim

Tem corpo suave em mim

Que turbilhão

Rodamos no salão

Tempo de amor,

Ternos olhares, ah,

Que emoção

Havia, então,

Sofrer nenhum

Ao se findar a dança

Éramos um.

As rosas da Primavera

Letra e Música Gonzaga - Piano Iara Navas


As rosas da primavera

São tantas que até nem sei

Abriram-se nas janelas

E com elas enfeitei

O sorrido da pequena

Que os lábios eu beijei

Na noite de lua branca

Saudade me traz o luar


Morena minha morena

Dos olhos da cor do mar

Do sorriso largo e pleno

Da boca pequena a me chamar

Morena minha morena

Dos olhos da cor do mar

Muitas rosas nos cabelos

Vermelhas ao sol a balançar

Família (do livro "Um Vulto Feito Luz")

Letra e Música Gonzaga - Piano Iara Navas


Ela me disse outro dia

Que lhe doía a espinha

E o coração

Disse também que sofria

Pontada no baço

Nas tardes de verão

Tinha no rosto um cansaço atroz

Lembrou-me um vulto fugaz

Desses que ganham da vida

Curto e breve repouso

E nada mais


Contou-me a vida passada

Difícil sempre danada

De se levar


Do João perdido na noite

Dos filhos bambos no açoite

Mil pontas pra segurar

Tinha nos olhos um ódio feroz

No corpo gesto voraz

Desses que expressam desdita

Da velha vida maldita

De se aturar


Pediu-me triste uma nota de cem

Somente até o mês que vem

Jurou-me paga segura também

Acompanhada das graças do além

Baixou os olhos prantosos no chão

Resmungou frase de baixo calão

E lamentou a precisão.

Para Lili


As luzes da cidade

Em noites sem idade

Afagam-te os cabelos

Os passos, os traços, os pelos


Se caminhas por aí

Em busca de desvelos

E dos suaves anelos

Que sonham por ti

Ai Lili, Ai Lili


As sombras da maldade

Nos olhos invejosos

Do teu sorriso largo

Em lábios de romãs

Delicias das maçãs

Desfazem-se em segredo

Surdo, mudo e ledo

e só por ti

Ai Lili, Ai Lili


As plumas do arvoredo

Enluarado, ai o medo

Da baça e quase morta luz

Que a noite mal produz

Pelos jardins por onde

Ouves cantar um bem-te-vi

Tão próximo de ti

Mas que tolice, não Lili!

Sentir ciúme de um pássaro

Bem eu que não te conheci.

Soneto-Canção para Lorena

Partituras: 01 - 02


Para alguém que não tenho a menor ideia de quem seja...


Lorena menina, sorriso, encanto

Nos modos bem suaves, és quase mulher,

Em teus quinze anos, de deusa tens tanto

Teus olhos de relva sou eu quem os quer


Ah, se tu soubesses o quanto de adoro,

Teus passos de garça persigo-os triste,

mas como não sabes, não vês como choro,

saber-te bailando, ai Deus, quem resiste...


Teus louros cabelos quisera eu, um dia,

Enchê-los de afagos, ternuras do céu,

Tigressa, teus lábios me sabem o mel...


Em brumas te esvaes, vem a madrugada,

qual anjo caminhas, perpassa-me a alma,

não vês o meu drama, ah! Como és malvada!

Passagens

Canção nº 41 - Letra e Música Gonzaga - Piano Iara Navas


Ó doce, triste, suave e cativante

O tempo dos sonhares tão distantes,

Quando a vida em festa explodia em flores,

Perfumando o tinto vinho e meus amores.


Um vulto de mulher, a placidez, a luz

Vastas paisagens, cores, primavera,

Nós dois, o lago azul, aromas de alcaçuz

As cristalinas águas de quimera


Falávamos de coisas vãs e prazerosas

Num perpassar de nuvens deliciosas,

Desses momentos que se findam em instantes


Ambos cansados no minuto mudo

Olhos nos olhos, dizendo quase tudo

Desnecessário em bocas dos amantes.

Fugaz

Letra e Música Gonzaga


Toco teus cabelos, roubo-te um beijo apressado

Ficas surpresa de mim, foges de meus desvelos.

Por entre carros e luzes, em meio aos atropelos

Meu coração diz que sim, bate descompassado


Procuro pelas esquinas, nos luminosos dos bares

Mas na Paulista, as meninas e seus olhares,

Sonhando passo por elas, não me dão vontade

No Astor vejo um perfil percebo suavidade


Abordo o vulto e o abraço, a pele é pura seda

Sorriso doce, nos lábios, na expressão maldade

Fogo fugaz na solidão, convite às alamedas.


Abre-me os braços, somos dois desejos

Louco de paixão, em rubros beijos,

Mas foi tudo uma ilusão, as ruas são veredas.

Adeuses

No azul, feito de luz,

Sonhos que vão,

Recordações

Lembranças tantas

Que eu levo daqui


Ah, o amor, primeiro amor

Tanto rubor

Mil emoções

Se bem me lembro

Eu fui tão feliz


Adeus, adeus...

Me vou feito flor

Adeus, adeus,

Lilases, sorrisos

Aromas, saudade,

Eu fico no amor


Dedicado aos formandos de 87 da EE Prof. José Monteiro Boanova

Despedida

Partituras: 01 - 02


Vem chegando a hora

É presente o tempo

Do nosso adeus


Já desponta na saudade

A lágrima furtiva

Nos olhos meus


Na memória o tudo muito

Ganhei aqui

Grandes pitos, mil saberes

Sempre recebi

Dos semblantes meigos, sérios,

Mestres são assim

Frágeis seres tão humanos

Feito espelho a refletir em mim


Pelos caminhos que procuro

Vejo uma luz a me guiar

Vou vagando no futuro

Quase sempre muito escuro

Mas a luz clareia e brilha

Varre as trevas dessa trilha

Ilumina o caminhar

Ilumina o caminhar


Dedicado aos formandos da 8ª série de 1988 da EEPG Profº José Monteiro Boanova.

Pequena Suíte - Alegria e Lamento da Natureza

Letra e Música Gonzaga

I – Resplandecente

Eu sou um campo verde

Feliz a respirar

Ao sol eu vivo livre

Um vento a embalar

A dança de mil flores

No orvalho feito lã

As cores de ouro e prata

Rebrilham na manhã


Estamos tão contentes

A vida nos conduz

De dia o sol aquece

À noite a lua é luz


II- Passaredo

Corremos, voamos

Amamos, crescemos,

Brincamos somente

No campo tão verde


Perfume aspiramos

Das flores amigas

E somos felizes

Na vida que temos


Eterna sabemos

Em cada estação

Em cada estação

Por fim renascemos


Não sabemos do tempo

Nem nos fazem padecer

Os amigos ausentes

Nem se pode esquecer

Que se vão perecendo

Em constante viver

Em constante viver


III - Canções das flores num dia gris

Rosa:

Onde foi a alegria?

Diz-me cravo e jasmim,

E o verde que havia

Ontem neste jardim?


Jasmim:

Rosa amiga, onde andarão

Nossas cores, nosso luar

O perfume que à noite havia

Nosso ar, nosso ar


Cravo:

Vê que noite tão fria

Olha o cinza do céu,

Que saudade do fim do dia

Das estrelas ao leu


As três flores

Não se sabe se haverá

Novo tempo de se cantar

Mil canções que o jardim ouvia

Nosso lar, nosso lar, nosso lar.


IV- Um cinza esperança

Quem passou por aqui

Uma praga, um tufão?

Minha rosa matou

Meu jasmim massacrou

O meu cravo secou de uma vez

E o perfume das flores

Que um vento de amores

Fazia espalhar pelo ar

Não restou nem luar

Nesta poluição, sim

Este monstro malvado

Cinzento safado

Levou meu jardim.


Que progresso chinfrim

Nosso homem criou

Só constrói espigão

Queima o verde do chão

Aves, peixes, corrói sem pensar

Na saúde do irmão

Num futuro de cão

Que prepara pro filho que vem

Nem se sabe também

Se um dia haverá, viu

Cores, cantos, perfumes

Encantos de bosques

Nas tardes de abril


V - Criança/Esperança


Viva o verde

Que ainda não se acabou

Via natureza que se preservou

Renasça a beleza

De mãos infantis

Negras, brancas, pardas

Mas muito gentis

Brancas, negras, pardas

Mas muito gentis.

Uma canção desesperada

Rastejar

Nesse teu corpo hindu

Acarinhar você

Entre os lençóis

Meu algoz

Tantas palavras vãs

Meiga voz

A provocar em mim

Sensações aos borbotões

Assim

Arranhões suaves de fim


Respirar

Esses perfumes vis

Degustar

Lábios de aniz

Mergulhar

No seu abismo gris

Me ferir na tua cicatriz

Doce paz

Enquanto sou feliz

Bem capaz

De suprimir a dor

Que então virá

Me abrasar

Depois do amor.

Sereia

Jade, Rubi

Porcelana rara, Jaci,

Lapidar, finos cristais,

Só pra te enfeitar


Rubra maçã

Sob o sol ardente, é manhã

Brisa-neve no verde mar

A te acariciar


Ninfa-mulher

Luminando essas praias

Azuis

No abrir dessas conchas de luz

Castigando verões


Corpo de paz

Onde bebo o teu seio

Fugaz

Teu perfume na pele, serás

Meu prazer de viver


Gozo ao fluir

Fruto-mel

Desses lábios romãs

Provo o céu

E as delícias pagãs

Nesse teu balançar

Em mim


Suave sonhar

Em abraços, cansaços

Sentir

Graça, dengo, molengo

Sorrir na beleza de amar.

Delicias de você

Vem meu doce de côco

Coração

Acende e atende

A esta paixão


Abre a rosa vermelha

Do prazer

Me consome esta ânsia

De querer


Esse cheiro molhado

De capim

No seu corpo amoroso

Colado em mim


Cravo-beijo na boca

De hortelã

Desfaleço

Nos braços de Iansã


Vou provando as delicias

De você, he, ho

Seu tempero tem gosto

De dendê, he, ho


Vou sugando esse mel

De sua flor, he, ho

Mansa brisa no céu

De tanta cor, he, ho


Esparramo em você doce licor

Nos saciamos em gestos de muito amor

Nem lembramos que a vida é tão fugaz

Quanto eterno é o momento que se desfaz

Eros

Esse teu pelo

De noite clara

Me assanha

A manha meu bem querer


O teu trejeito

De moça odara

Me adoça a bossa

De te fazer

Caricias tantas

Sensual morena

A quintessência do meu prazer


Vêm me trazer o cansaço

Um mormaço em teu corpo

Que é tão bom


Chora no meu abraço

Esse choro molenga

Que é de bom tom

Serpenteia no meu requebrado

Desse amado pecado

Que tem perdão


Faça silêncio, agora

Senão o amor vai embora


Sussurra baixinho em meu ouvido

Aquelas palavras de paixão

Suave é o momento

De doce ternura

Feito de loucura

De alucinação

Apelo

Vem, pois a noite é linda amor

Vem seu sorriso sempre traz

Vida que nunca vivi amor

Tempo que nunca sonhei


Vem, há no seu sorriso

Novas esperanças

Faz do luar claro

Nosso amor criança

Faz desta paixão

Eterna liberdade

Faz restar da dor

Apenas a saudade

Saudade

Ah, se soubesses do tempo

Que foi minha tristeza

Ah, soubesses do tempo

Que foi meu desamor

Voltarias nos braços

De vento

Que levou este triste lamento

Nesse dia a tristeza morria

E me deixava em paz

Uma canção de Natal

É Natal, tempo feliz,

Nos semblantes risos

De aniz


Reviver as emoções

Venha a paz

Muito amor

Se mal fiz

Mil perdões


Mitigar aflições

Essa dor, as paixões.


Espantar crua solidão

Entregar-se de coração

É Natal e o bem floresceu

Tanto faz se não foi assim

É Natal, ilusões

Ouro-mel

A brilhar, nova estrela no céu


Contemplar alva luz ao léu

Luminosa na noite azul


É Natal e Jesus nasceu

Tanto faz se não foi assim


É Natal, ilusões

Ouro-mel

A brilhar, uma estrela no céu.

Il Tuo dolce guardare

Letra Regina Assad

Il tuo dolce guardare

Que sorrirá, in tutti giornni que pássano

Staráno vicino a me

Come la luce nascente del infinito


Di notte cuando ritorni

Per la mattina, cuando ti svegli

A la luna, cuando sogni

I fiori, perfumato e incerto


Peró, si il tuo cuore dimenticherá

Io que voglio tanto bene,

Che nella solitudini de ti amanti,


Tuoi occhi póssano ricordarmi

Ricordarmi

Tuoi occhi póssano ricordarmi.

Canções sobre Poemas de Poetas Vários

Canções sobre poemas compostas e interpretadas pelo autor e Partituras

3 Canções sob Poemas de Olavo Bilac

Letra e Música Gonzaga Pinto

Piano e Violino: Felipe do Vale


Partitura: veja aqui!


01 - Nel mezzo del camin – Olav Bilac

Cheguei. Chegaste. Vinhas fatigada e triste

E triste. E triste e fatigado eu vinha

Tinhas a alma de sonhos povoada,

E alma de sonhos povoada eu tinha...


E paramos de súbito na estada da vida:

Longos anos, presa a minha à minha

A tua mão, a vista deslumbrada

Tive da luz que o teu olhar continha.


Hoje segues de novo...

Na partida nem o pranto os teus olhos umedece,

Nem te comove a dor da despedida.


E eu, solitário a face, e tremo

Vendo teu vulto que desaparece

Na extrema curva do caminho extremo.


02 – Via Láctea

Ora direis ouvir estrelas! Certo

Perdeste o senso! “E eu vos direi, no entanto,

Que para ouvi-las, muita vez desperto

E abro a janela, pálido de espanto


E conversamos toda a noite, enquanto

A Via Láctea, como um pálido aberto, Cintila.

E, ao vir o sol saudoso e eu em pranto

Linda as procuro pelo céu deserto.


Direis agora: “Tresloucado amigo!

Que conversas com elas?” Que sentido

Tem o que dizem, quando estão contigo


E eu vos direi: “amai para entendê-las!

Pois só quem ama, pode ter ouvido

Capaz de ouvir e de entender as estrelas.


03 – Por quem foi que me trocaram

Por quem foi que me trocaram

Quando estava a olhar pra ti?

Pousa a tua mão na minha

E, sem me olhares, sorri.


Sorri do teu pensamento

Porque eu só quero pensar

Que é de mim que ele está feito

É quem tens para me dar.


Depois aperta-me a mão

E vira os olhos a mim...

Por quem foi que me trocaram

Quanto estás a olhar-me assim?


"A Casa da Verdade"

Leandro Konder

A verdade mora

Numa casa antiga

De uma rua estreita;

De dia ela chora

De tarde nem liga

De noite se enfeita


Quando acorda cedo

Rega suas plantas

Que aliás são tantas

Que até metem medo


Jacintos espúrios

Tísicas anêmonas

Feras umbelíferas

Turvas cinerárias

Bastardos antúrios

Calêndulas várias

Torpes solanáceas

Petúnias, peônias

Dicotiledôneas e

euforbiáceas


poucas tem o vício

ou o desperdício

de suprir farmácias


No sótão trancada

Louca desvairada

Vive uma velhinha

Cuja voz fininha

Se ouve da calçada

Falando bobagem

Pura sacanagem

É uma velha tia

Chamada Poesia


No quarto dos fundos

Entre um cão e um gato

(todos os dois imundos)

dorme de sapato

um moço insensato

bebedor violento

primo sentimento


No porão oculto

Vive um alquimista

Cego de uma vista

Caladão e culto

Descurtindo o couro

Desfazendo o ouro

Sempre em marcha a ré

Como um caranguejo

Esse cara é

O tal do desejo


Dentro da cozinha

Junto do fogão

Fica uma pretinha

De nome razão

Que prepara o grude

Pra toda essa gente

Pensando insistente

O que há de ser feito

Pra que tudo mude

E fique direito.

"Uma canção de amor"

do alemão Heinrich.Heine (1797- 1856) traduzido por Décio Pignatari

Quando mergulho os olhos nos teus olhos

Vão-se o pesar e a dor

E quando colo a boca em sua boca

Revivo em novo ardor


No corpo em corpo, é como se do alto

Me invadisse o teu charme

Mas quando dizes baixo eu te amo!

Amargo é o meu chorar-me

He liked the dead - Ele gostava dos mortos

do poeta norte-americano Malcom Lowry, traduzido por João Moura Jr.

As the poor end of each dead day drew near

He tried to count the things which he held dear

No Rupert Brooke and no great lover, he

Remembered little of simplicity:

His soul had never been empty of fear

And he would sell it thrice now for a tarot of beer


He seemed to have known no love, to have valued dread

Above all human feelings. He liked the dead.

The grass was not green not even grass to him;

Nor was sun, sun; rose, rose; smoke smoke; limb, limb


Ao findar cada dia como finda um cigarro,

Procurava avaliar o que lhe era mais caro

Não sendo um Robert Brooke, ou o tipo a vontade

Como amante, desconhecia a simplicidade

De medo sua alma nunca esteve destituída

E por uma cerveja hoje seria vendida

E por uma cerveja hoje seria vendida


Contra o amor parecia ter criado anticorpos

Não contra o pavor. Ele gostava dos mortos.

Para ele, a grama não era verde, nem grama;

Nem sol, sol; o fumo, fumo; a rama, rama.

On the marriage of a virgin - No casamento da virgem

Dylan Thomas, tradução de Caio Túlio Costa

Waking alone in a multitude of loves when morning's light

Surprised in the opening of her nightlong eyes

His golden yesterday asleep upon the iris

And this day's sun leapt up the sky out of her thighs

Was miraculous virginity old a loaves and fishes,

Though the moment of a miracle is unending lightining

And the shipyards of Galilee's footprints hide a navy of doves


No longer will the vibrations of the sun desire on

Her deepsea pillow where once she married alone,

Her heart all ears and eyes, lips catching the avalanche

Of the golden ghost who ringed vith his streams her mercury bone,

Who under the lids of her windows hoisted his golden luggage,

For a man sleeps where fire leapt down and she learns through his arm

That other sun, the jealous coursing of the unrivalled blood.


Despertando sozinha entre uma profusão de amores, quando a luz da manhã

Surpreendia no abrir de seus olhos longos como a noite

O dourado ontem dele, adormecido sobre sua íris

E o sol desse dia saltou das suas coxas para o céu

A milagrosa virgindade era velha como pães e peixes,

Embora o momento do milagre seja um relampejar sem fim

E no rastro da Galiléia os estaleiros escondam uma frota de pombas.


Nunca mais as vibrações do sol desejarão

Sua almofada profunda como mar onde uma vez sozinha ela se casou

Seu coração todo olhos e ouvidos lábios agarrando a avalanche

Do espírito dourado que enroscou com sua corrente seu osso mercurial,

Que sob o parapeito de sua janela içou a bagagem dourada,

Pois dorme um homem onde caiu o fogo e ela conhece entre seus braços

Aquele outro sol, o ciumento fluir do sangue sem rival

Cismas

Álvares de Azevedo

Ai! Quando de noite, sozinha à

Janela,

Com a face na mão eu te vejo ao

Luar

Porque, suspirando, tu sonhas

Donzela?

A noite vai bela,

E a vista desmaia

Ao longe na praia

No mar!


Por quem esta lágrima orvalha-te

Os dedos,

Como água de chuva e cheiroso

Jasmim?

Na Cisma que anjinho te conta

Segredos?

Que pálidos medos?

Suave morena

Acaso tens pena

De mim?

De poetas desconhecidos

De poetas desconhecidos

Primavera

Antonio Ramos Rosa

Falo por palavras

Duras, rasas

Uma raiva tranquila

Habita-me


O meu dia existe

Nesse punho de pedra

Nesta serra verde

Nesta casa fria


Uma folha canta

É um lábio livre

Uma folha olha

Tranquilamente


Olho é bom olhar

Ver o tronco

As ramagens finas

A boca que espera

No murmúrio das folhas

Estou só e o sol sobe

Num céu que desconheço

Arcajú. Arcazul

de Mario Jorge poeta pernambucano, já falecido.

Ah como são verdes

Os espaços em branco

De minha alma


Ah como são verdes

Os terríveis barrancos

Dessa calma


Ah, como são verdes

Os maduros frutos

Deste meu natal


Arcazul, arcajú

Se não se sim

Caminhos do sul

Não são pra mim.


Pencas de sol nesta paisagem

Fantasmas de folhas murmurantes

Aonde o vento eterno

Habita-se


Arcazul, arcajú

Se não se sim

Caminhos do sul

Não são pra mim


Silêncios de verdes prados

Nos olhos secos do amor

O grito se fez pecado

No ego que sei não sou


Arcazul, arcajú

Senão se sim

Caminhos do sul

Não são pra mim

"Um outono de Ouro" e "Por uma perna de pinto/Porque os corpos se entendem, mas as almas não."

de José Almino de Alencar

Outono de ouro

Promessa

de manhã clara

Neste domingo

Vago

Um outono de ouro


Prepara-se a chegada dos mortos

Com seus destinos pela metade


Chegam assim

Sempre pressentidos


Impõem-nos

Um nó na garganta

A angústia

Comida fria


A carne cansada

A espreita


Por uma perna de pinto/Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

A vida mascara

O fundo do mal

E o riso brutal

E a morte ignara


Mas como

Se eu claramente pressentia

O simples anúncio

De um sorriso

No seu rosto?

E, juntos,

Não fomos generosos

Com o passado,

Com os amigos,

Com os mortos,

Enquanto o brilho do amor

Se insinuava

Na alegria de cada gesto

Novo?


Agora,

No meio dessa tarde

Onde nem a morte ronda minha vida,

Me diga: não foi verdade?

Trovas da Glorinha

de Glória Mourão Sandoval

Com a névoa como manto

A fada na madrugada

Aumenta a graça e o encanto

Daquela a rosa orvalhada


Por meu amor desprezada

Lancei-me em outra aventura

Mesmo que não dê em nada

Esquecê-lo é minha jura


Sofro mágoas, tantas, tantas!

Silêncio sem compaixão

Tu negas respostas quantas,

Para o aflito coração


É doce não sei de quê,

Eu sinto nem conto quando

Me disseram que é porquê

Sem querer estou te amando


Primeira estrela que vejo

Dai-me na vida um romance,

É tudo que mais desejo:

Um amor a meu alcance


O pequeno grão de areia

Enfrenta a fúria do mar

No chão rola, luta e anseia

Viver ao sol e ao luar


Vendo o mundo de um mirante,

Notei ausência de amor

Como verdade, gritante

Tristeza miséria e dor


Você todo encanto e graça

Transformou meu coração,

Pois sofri em sua taça

Doce sabor de paixão


Se o amor dura uma vida,

Hei de amar-te até morrer,

Se morrer é despedida,

Nenhum adeus virás ver


Ao partir como legado

Deixo memórias de amor

Viver ido, meu amado

Foi você, saudade e dor

Duas canções sobre poemas do amigo e poeta Camelo Ponte

A Jangada

Garbosa e confiante, lá vai a jangada,

Do vento impelida, ginete do oceano,

Das ondas tangendo a inquieta manada,

Por baixo um mistério: por cima outro arcano


Vai, leda bailando, na equórea jornada;

Terral bonançosa retesa-lhe o pano,

E as rosas de espuma tapizam-lhe a estrada...

- não leva desdita, nem cruel desengano.


Como essa jangada quisera eu, um dia,

Por entre mil sonhos, gozar doce fado,

Num mar de bonança, de paz e estesia


Mas, atro destino jogou-me entre escolhos...

E, em vez de ventura, no porto sonhado,

Um oceano de prantos mês escorre dos olhos


Acróstico

És o verbo sublime e divino,

Luz que infunde ternura e calor

Zéfiro suave que entoa almo hino

Alva lira da paz e de amor


Pelos mares revoltos, em lida

Enfrentando procelas, ao léu,

Nau sem rumo, em teus braços, querida,

Hoje, achei, qual pedaço do céu,

A bonança e o meu porto na vida


Vagaremos por rotas mais puras,

Indo além das fronteiras, até,

Velejando num mar de venturas,

Aos aflares das brisas da fé,

Na demanda de plagas seguras

Canções sobre poema do livro Broquéis, e sobre sonetos do livro "Últimos Sonetos" de Cruz e Souza

Regina Coeli

Ó virgem branca, Estrela dos altares,

Ó rosa pulcra dos Rosais polares!


Branca, do alvor das âmbulas sagradas

E das níveas camélias regeladas


Das brancuras da seda sem desmaios

E da lua de linho em ninho e raios


Regina Coeli das sidérias flores

Hóstia da Extrema-Unção de tantas dores.


Ave de prata e azul, Ave dos astros...

Santelmo aceso, a cintilar nos mastros.


Gôndola etérea de onde o Sonho emerge...

Água lustral que o meu Pecado asperge.


Bandolim do luar, Campo de giesta,

Igreja matinal gorjeando em festa.


Aroma, Cor e Som das Ladainhas

De Maio e Vinha verde dentre as vinhas.


Dá-me, através de cânticos, de rezas,

O Bem, que almas acerbas torna ilesas.


O Vinho d'ouro, ideal, que purifica

Das seivas juvenis a força rica.


Ah! Faz surgir, que brote e que floresça

A vinha d'ouro e o vinho resplandeça.


Pela Graça imortal dos teus Reinados

Que a Vinha os frutos desabroche iriados.


Que frutos, flores essa vinha brote

Do céu sob o estrelado chamalote.


Que a luxúria poreje de áureos cachos

E eu um vinho de sol beba aos riachos.


Virgem, Regina, Eucaristia, Coeli,

Vinho é o clarão que teu Amor impele.


Que desabrocha ensanguentadas rosas

Dentro das naturezas luminosas.


Ó Regina do Mar! Coeli! Regina!

Ó Lâmpada das naves do Infinito!

Todo o Mistério azul desta Surdina

Vem d'estranhos Missais de um novo Rito!...


Caminho da Glória

Este caminho é cor-de-rosa e é de ouro,

Estranhos roseirais nele florescem,

Folhas augustas, nobres reverdecem

De acanto, mirto e sempiterno louro.


Neste caminho encontra-se o tesouro

Pelo qual tantas almas estremecem;

É por aqui que tantas almas descem

Ao divino e fremente sorvedouro.


É por aqui que passam meditando,

Que cruzam, descem, trêmulos, sonhando

Neste celeste, límpido caminho


Os seres virginais que vêm da Terra

Ensanguentados da tremenda guerra,

Embebedados do sinistro vinho.


Prodígio

Como o Rei Lear não sentes a tormenta

Que te desaba na fatal cabeça!

(Que o céu d'estrela todo resplandeça)

A tua alma, na dor mais nobre aumenta.


A desventura mais sanguinolenta

Sobre os teus ombros impiedosa desça,

Seja a treva mais funda a mais espessa...

Todo o teu ser em músicas rebenta.


Em músicas e em flores infinitas

De aromas e de formas esquisitas

E de um mistério singular, nevoento


Ah! Só da Dor o alto farol supremo

Consegue iluminar, de extremo a extremo,

O estranho mar genial de Sentimento!


Supremo Verbo

Vai Peregrino do caminho santo,

Faz da tu'alma lâmpada do cego,

Iluminando, pego sobre pego

As invisíveis amplidões do Pranto


Ei-lo do amor o cálice sacrossanto!

Bebe-o feliz, nas tuas mãos o entrego...

Eis o filho leal, que eu não renego,

Que defendo nas dobras do meu manto.


- Assim ao Poeta a Natureza fala!

Enquanto ele estremece ao escutá-la,

Transfigurado de emoção, sorrindo...


Sorrindo a céus que vão se desvendando,

A mundos que se vão multiplicando,

A portas de ouro que se vão abrindo!


Floresce!

Floresce, vive para a Natureza,

Para o Amor imortal, largo e profundo,

O Bem supremo de esquecer o mundo

Reside nessa límpida grandeza.


Floresce para a Fé, para a Beleza

Da luz, que é como um vasto mar sem fundo,

Amplo, inflamado, mágico, fecundo,

De ondas de resplendor e de pureza.


Andas em vão na Terra, apodrecendo

À toa pelas trevas esquecendo

A natureza e os seus aspectos calmos.


Diante da luz que a Natureza encerra

Andas a apodrecer por sobre a Terra,

Antes de apodrecer nos sete palmos!


Almas Indecisas

Almas ansiosas, trêmulas, inquietas,

Fugitivas abelhas delicadas

Das colmeias de luza das alvoradas,

Almas de melancólicos poetas,


Que dor fatal e que emoções secretas

Vos tornam sempre assim desconsoladas,

Na pungência de todas as espadas,

Na dolência de todos os ascetas!


Nessa esfera em que andais, sempre indecisas

Que tormento cruel vos nirvaniza,

Que agonias titânicas são essas?!


Por que não vindes, almas imprevistas,

Para a missão das límpidas conquistas

E das augustas, imortais Promessas?!


Coração Confiante

O coração que sente vai sozinho,

Arrebatado sem pavor sem medo...

Leva dentro de si raro segredo

Que lhe serve de guia no Caminho.


Vai no alvoroço, no celeste vinho

Da luz, os bosques acordando cedo,

Quando de cada trêmulo arvoredo

Parte o sonoro e matinal carinho.


E o Coração vai nobre e vai confiante,

Festivo como a flâmula radiante,

Agitada bizarra pelos ventos...


Vai palpitando, ardente, emocionado,

O velho Coração arrebatado,

Preso por loucos arrebatamentos!


Crê

Vê como a Dor te transcedentaliza!

Mas num fundo da Dor crê nobremente.

Transfigura o teu ser na força crente

Que tudo torna belo e diviniza.


Que seja a Crença uma celeste brisa

Inflando as velas dos batéis do Oriente

Do teu Sonho supremo, onipotente,

Que nos astros do céu se cristaliza


Tua alma e coração fiquem mais graves

Iluminados por carinhos suaves,

Na doçura imortal sorrindo e crendo...


Oh! Crê! Toda a alma humana necessita

De uma Esfera de cânticos, bendita,

Para andar crendo e para andar gemendo!


Mundo Inacessível

Tu'alma lembra um mundo inacessível

Onde só astros e águias vai pairando,

Onde se escuta, trágica, cantando,

A sinfonia da Amplidão terrível!


Toda a alma que não seja alta e sensível.

Que asas não tenha para as ir vibrando,

Nessa Região secreta penetrando,

Falece e morre de um pavor incrível!


É preciso ter asas e ter garras

Para atingir aos ruídos de fanfarras

Do mundo da tu'alma augusta e forte.


É preciso subir ígneas montanhas

E emudecer, entre visões estranhas

Num sentimento mais sutil que a Morte!


Um Ser

Um ser na placidez da Luz habita,

Entre os mistérios inefáveis mora.

Sente o florir das lágrimas que chora

A alma serena, celestial, bendita.


Um ser pertence a música infinita

Das Esferas pertence à luz sonora

Das estrelas do Azul e hora por hora

Na Natureza virginal palpita.


Um ser desdenha das fatais poeiras,

Dos miseráveis ouropéis mundanos

E de todas as frívolas cegueiras...


Ele passa, atravessa entre os humanos,

Como a vida das vidas forasteiras,

Fecundadas nos próprios desenganos.


Alma solitária

Ó doce, triste, suave e cativante,

O tempo dos sonhares tão distante

Quando a vida em festa explodia em flores

Perfumando o tinto vinho e meus amores


Um vulto de mulher, a placidez, a luz

Vastas paisagens, cores, primaveras.

Nos dois, o lago azul, aromas de alcazus,

As cristalinas águas de quimeras.


Falávamos de coisas vãs e prazerosas,

Num perpassar de nuvens deliciosas,

Nesses momentos que se findam em instantes.


Ambos cansados no minuto mudo,

Olhos nos olhos, dizendo quase tudo

Desnecessários em bocas dos amantes

Desnecessários em bocas dos amantes


Sorriso Interior

O ser que é ser e que jamais vacila

Nas guerras imortais entra sem susto

Leva consigo este brasão augusto

Do grande amor da grande fé tranqüila.


Os abismos carnais, da triste argila

Ele os vence sem ânsias e sem custo...

Fica sereno, num sorriso justo,

Enquanto tudo em derredor oscila.


Ondas interiores de grandeza

Dão-lhe esta glória em frente à Natureza,

Esse esplendor, todo esse largo eflúvio.


Um ser que é ser transforma tudo em flores...

E para ironizar as próprias dores

Canta por entre as águas do Dilúvio!


Mealheiros de Almas

Lá das colheitas do celeste trigo

Deus ainda escolhe a mais louçã colheita

É a alma mais serena e mais perfeita

Que ele destina a conservar consigo.


Fica lá, livre, isenta de perigo,

Tranquila, pura, límpida, direita

A alma sagrada que resume a seita

Dos que fazem do amor eterno Abrigo.


Ele quer essas almas, os pães alvos

Das aras celestiais, claros e salvos

Da Terra em busca das Esferas calmas.


Ele quer delas, todo o amor primeiro

Para formar o cândido mealheiro

Que há de estrelar todo o Infinito de almas.


Êxtase Búdico

Abre-me os braços, Solidão profunda,

Reverência do céu, solenidade.

Dos astros, tenebrosa majestade,

Ó planetária comunhão fecunda!


Óleo da noite sacrossanto, inunda

Todo o meu ser, dá-me essa castidade,

As azuis florescências da saudade,

Graça das Graças imortais oriunda!


As estrelas cativas no teu seio

Dão-me um tocante e fugitivo enleio,

Embalam-me na luz consoladora!


Abre-me os braços, Solidão radiante

Funda fenomenal e soluçante

Larga e búdica, Noite redentora.


Canção sobre verso de Fernando Pessoa

Canção sobre verso de Fernando Pessoa

Variações sobre o poema

Ao longe, ao luar,

No rio uma vela,

Serena a passar,

Que é que me revela?


Não sei, mas meu ser

Tornou-se-me estranho,

E eu sonho sem ver

Os sonhos que tenho.


Que angústia me enlaça?

Que amor não se explica?

É a vela que passa

Na noite que fica


Três canções sobre poemas do Livro Marilia de Dirceu de Tomás Antonio Gonzaga

Três canções sobre poemas do Livro Marilia de Dirceu de Tomás Antonio Gonzaga

Lira I

Musica

Versão Piano e voz

Não toques, minha Musa, não, não toques

Na sonorosa Lira,

Que às almas, como a minha, namoradas

Doces canções inspira:

Assopra no clarim, que apenas soa,

Enche de assombro a terra!

Naquele, a cujo som cantou Homero,

Cantou Virgilio a Guerra.


Busquemos, ó Musa,

Empresa maior;

Deixemos as ternas

Fadigas de Amor.


Eu já não vejo as graças, de que forma

Cupido o seu tesouro;

Vivos olhos e faces cor-de-rosa,

Com crespos fios de ouro.


Busquemos, ó Musa,

Empresa maior;

Deixemos as ternas

Fadigas de Amor


Cantemos o herói, que já no berço

As serpes despedaça;

Que fere os Cacos, que destrona as hidras;

Mais os leões que abraça.

Cantemos, se isto é pouco, a dura guerra

Dos Titães, e Tifeus,

Que arrancam as montanhas, e atrevidos

Levam armas aos Céus.


Busquemos, ó Musa

Empresa maior

Deixemos as ternas

Fadigas de Amor.


Anima pois, ó Musa, o instrumento,

Que a voz também levanto,

Porém tu deste muito acima o ponto,

Dirceu não sobe tanto:

Abaixa, minha Musa, o tom, qu'ergueste;

Eu já, eu já te sigo.

Mas, há! Vou a dizer Herói, e Guerra,

E só Marília digo.


Deixemos, ó Musa,

Empresa maior;

Só posso seguir-te

Cantando de Amor.


Feres as cordas d'ouro? Ah! Sim, agora

Meu canto já se afina:

E a humana voz parece que ao som delas

Se faz também divina.

O mesmo, que cercou de muro a Tebas,

Não canta assim tão terno;

Nem pode competir comigo aquele,

Que desceu ao negro Inferno.


Deixemos, ó Musa,

Empresa maior;

Só posso seguir-te

Cantando de Amor


Mal repito Marília, as doces aves

Mostram sinais de espanto;

Erguem os colos, voltam as cabeças,

Param o ledo canto:

Move-se o tronco, o vento se suspende;

Pasma o gado, e não come:

Quando podem meus versos! Quanto podem

Só de Marília o nome


Deixemos, ó Musa,

Empresa maior;

Só posso seguir-te


Lira II

Eu, Marília, não sou algum vaqueiro,

Que viva de guardar alheio gado;

De tosco trato, d'expressões grosseiro,

Dos frios gelos, e dos sóis queimado.

Tenho próprio casal, e nele assisto;

Dá-me vinho, legume, fruta, azeite;

Das brancas ovelhinhas tiro o leite,

E mais as finas lãs, de que me visto.


Graças Marília bela,

Graças à minha estrela!


Eu vi o meu semblante numa fonte,

Dos anos inda não está cortado:

Os Pastores que habitam este monte,

Respeitam o poder do meu cajado:

Com tal destreza toco a sanfoninha,

Que inveja até me tem o próprio Alceste:

Ao som dela concerto a voz celeste;

Nem canto letra que não seja minha.


Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!


Mas tendo tantos dotes da ventura,

Só apreço lhes dou, gentil Pastora,

Depois que o meu afeto me segura,

Que queres do que tenho ser senhora.

É bom minha Marília é bom ser dono

De um rebanho, que cobre monte e prado;

Porém gentil pastora, o teu agrado

Vale mais q'um rebanho, e mais q'um trono.


Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!


Os teus olhos espalham luz divina,

A quem a luz do Sol em vão se atreve:

Papoula, ou rosa delicada, e fina,

Te cobre as faces que são cor de neve.

Os teus cabelos são uns fios d'ouro;

Teu lindo corpo bálsamo vapora.

Ah! Não, não fez o Céu, gentil Pastora,

Para glória de Amor igual tesouro.

Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela


Leve-me a sementeira muito embora

O rio sobre os campos levantado:

Acabe, acabe a peste matadora,

Sem deixar uma rês, o nédio gado.

Já destes bens, Marília, não preciso:

Nem me cega a paixão, que o mundo arrasta;

Para viver feliz, Marília, basta

Que os olhos movas, e me dês um riso.


Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela!


Irás a divertir-te na floresta,

Sustentada, Marília, no meu braço;

Ali descansarei a quente sesta,

Dormindo um leve sono em teu regaço:

Enquanto a luta jogam os Pastores,

E emparelhados correm nas campinas,

Toucarei os teus cabelos de boninas,

Nos troncos gravarei os teus louvores.


Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela


Depois que nos ferir a mão da morte,

Ou seja, neste monte ou noutra serra,

Nossos corpos terão, terão a sorte

De consumir os dois na mesma terra.

Na campa, rodeada de ciprestes,

Lerão estas palavras os Pastores:

"Quem quiser ser feliz nos seus amores,"

"siga os exemplos, que nos deram estes."


Graças, Marília bela,

Graças à minha Estrela


Lira XI

Pintam, Marília, os Poetas

A um menino vendado,

Com uma aljava de setas,

Arco empunhado na mão;

Ligeiras asas nos ombros,


O tenro corpo despido,

E de Amor e de Cupido

São os nomes que lhe dão.


Porém eu, Marília nego,

Que assim seja o Amor; pois ele

Nem é moço nem é cego,

Nem setas, nem asas tem.

Ora pois, eu vou formar-lhe

Um retrato mais perfeito,

Que ele já feriu meu peito;

Por isso o conheço bem.


Os seus compridos cabelos,

Que sobre as costas ondeiam,

São que os de Apolo mais belos;

Mas de loura cor não são.

Têm a cor negra da noite;

E com o branco do rosto

Fazem, Marília um composto

Da mais formosa união.


Tem redonda e linda testa,

Arqueadas sobrancelhas;

A voz meiga, a vista honesta,

E seus olhos são uns sóis.

Aqui vence o Amor ao Céu.

Que no dia luminoso

O Céu tem um Sol formoso,

E o travesso Amor tem dois.


Na sua face mimosa,

Marília, estão misturadas

Purpúreas folhas de rosa,

Brancas folhas de jasmim.

Dos rubins mais preciosos

Os seus beiços são formados;

Os seus dentes delicados

São pedaços de marfim.


Mal vi seu rosto perfeito

Dei logo um suspiro, e ele

Conheceu haver-me feito

Estrago no coração

Punha em mim os olhos quando

Entendia eu não olhava:

Vendo que o via, baixava

A modesta vista ao chão


Chamei-lhe um dia formoso:

Ele ouvindo os seus louvores,

Com um gesto desdenhoso

Se sorriu e não falou.

Pintei-lhe outra vez o estado,

Em que estava esta alma posta;

Não me deu também resposta

Constrangeu-se, e suspirou.


Conheço os sinais, e logo

Animado de esperança,

Busco dar um desafogo

Ao cansado coração.

Pego em teus dedos nevados,

E querendo dar-lhe beijo,

cobriu-se todo de pejo,

E fugiu-me com a mão.


Tu, Marília, agora vendo

De Amor o lindo retrato,

Contigo estarás dizendo,

Que é este o retrato teu.

Sim, Marília, a cópia é tua,

Que Cupido é Deus suposto:

Se há Cupido, é só teu rosto,

Que ele foi quem me venceu.


Pablo Neruda - Poema 20

Pablo Neruda - Poema 20

Posso escrever os versos tristes esta noite


Escrever por exemplo: "A noite está estrelada

E tiritam, azuis, os astros à distância


Gira o vento da noite pelo céu e canta


Posso escrever os versos mais tristes esta noite

Eu a quis e por vezes ela também me quis


Eu a tive em meus braços em noites como esta

Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito


Ela me quis e às vezes eu também a queria

Como não ter amado seus grandes olhos fixos


Posso escrever os versos mais tristes esta noite

Pensar que não a tenho. Sentir que já a perdi


Ouvir a noite imensa, mas imensa sem ela

E desce o verso à alma como ao campo o rocio


Que importa se não pôde o meu amor guardá-la

A noite está estrelada e ela não está comigo.


Isso é tudo. À distancia alguém canta. À distância

Minha alma se exaspera por havê-la perdido


Como para cercá-la meu olhar a procura

Meu coração a busca, ela não está comigo


A mesma noite faz branquear as mesmas árvores

Já não somos os mesmos, nos os de outros dias


Já não quero, é certo, quanto a quis no entanto

Minha voz ia no vento para alcançar-lhe o ouvido


De outro. Sera de outro. Como antes dos meus beijos

Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos


Já não a quero, é certo, porém talvez a queira

Ai, é tão breve o amor e tão extenso o olvido


Porque em noites como esta eu a tive em meus braços,

Minha alma se exaspera por havê-la perdido.


Mesmo sendo esta a última dor que ela me cause

E estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito


Letras em musicas eruditas, populares e de filmes

The Enterteiner de Scott Joplin (1868-1917)

Poema para o Alegreto da Sonata em mi menor

Wq 65/30 de Carl Philip Emanuel Bach

Momento

Quando eu te vi passar

Eras tanto encanto amor

Teu lindo rosto eterno enfim

Fora um tempo suave em mim

Lembro agora, neste instante

E quando o penso, desilusão


Quando eu te vi passar

No seu leve caminhar

Uma brisa evapora se esvai

Espalhando seu perfume, jasmim

Que aspiro enlouquecido

E que jamais de mim não sai


Eras como um por do sol

Eras tudo que sonhei

Eras visão quem sabe

Quase triste ilusão, bem sabes e sei


Quando eu te vi passar

No teu leve caminhar

Lembro com saudade

Os tempos idos da grande paixão


O teu semblante, teus olhos claros

Não perceberam o meu olhar

E tão distante, fostes de mim

Que de muito longe me quedei te amar


Quando eu te vi passar

Eras tanto encanto, amor

Teu lindo rosto eterno, enfim

Fora um tempo suave, em mim

Lembro agora, neste instante

E quando o penso desilusão


Quando eu te vi passar

No seu leve caminhar

Uma brisa evapora, se esvai

Espalhando seu perfume, jasmim

Que aspiro enlouquecido

E que jamais de mim não sai


Eras como um por do sol

Eras tudo que sonhei

Eras visão quem sabe

Quase triste ilusão, bem sabes e sei


Quando eu te vi passar

No teu leve caminhar

Lembro com saudade

Os tempos idos da grande paixão


O teu semblante, teus olhos claros

Não perceberam o meu olhar

E tão distante, fostes de mim

Que de muito longe me quedei te amar


Quando eu te vi passar

Era tanto encanto, amor

Teu lindo rosto eterno, enfim

Fora um tempo suave, em mim

Lembro agora neste instante

E quando o penso, desilusão


Quando eu te vi passar

No teu leve caminhar

Uma brisa evapora se esvai

Espalhando seu perfume, jasmim

Que aspiro enlouquecido

E que jamais de mim não sai

The Enterteiner de Scott Joplin (1868-1917)

Partituras: 01

I


Dedilhando meu ragtime

Os pares voam envoltos no azul

Calcinados de som e luz

Tão incríveis, o sonho se produz


Dedilhando meu ragtime

Os pares voam envoltos no azul

Vejo damas estrelas

Muito doido ao vê-las

Dedos fremem compassos demais


Dedilhando meu ragtime

Vultos fluem em baço salão

Leves livres à luz fugaz

Tão felizes, felizes e banais


Dedilhando meu ragtime

Os vultos fluem em baço salão

Vejo um lord bacana

Muito louco sacana

Em beijos quentes se aquece normal


II


E não se cansam, não

O sonho é muito bom

A noite é longa

A vida é breve, vai passar


Nesse momento sim

O riso fácil vem

Nas bocas tintas

Tintas de carmim


E não se cansam, não

O sonho é muito bom

A noite é longa

A vida é breve, vai passar


Sem segurar o amor

Que vai fugir por aí

Na madrugada

Que há de vir


(Repete o II e vai ao III)


III


Dedilhando meu ragtime

Tantos perfumes evolam no ar

Brindam taças de bom cristal

Colocando-se entre o bem e o mal


Dedilhando meu ragtime

Tantos perfumes evolam no ar

Vêem-se donos do mundo

Passos traem no fundo

Encontros certos e sempre fatais


IV


Bêbados de amor

Lívidos de horror

Hora avança, sol aponta

Tanto prazer se esfacela ah..


Bêbados de amor

Lívidos de horror

Hora avança, o sol aponta

Tanto prazer se esfacela, ah


Bêbados de amor

Lívidos de horror

A lua clara vai sumindo

O tempo bom vai acabar


Eles vão fugir, sumir por aí

Na madrugada que há de vir


V


Vão-se os casais enamorados

Dessas rosas, do prazer

Do vinho, a noite alucinada

De um viver extravagante

Como deve ser aqui


Somem nas esquinas iluminadas

De um néon que pisca e brilha

Afantasmando os semblantes tão belos

Ontem singelos, hoje bem reais.


(Repete o V e volta em I para encerrar)


Duas canções folclóricas romenas de Bela Bartok

O lenço

Música de Arthur Moreira Lima

Dou-te um alvo lenço

Branca nuvem-paz

Sai de minhas mãos

Vagando ao leu

Sabes quanto amor

Desce de teu olhar

Quando o colhes suave

Sob o céu


Acompanho tenso

Esse jeito teu

Ah, essa ilusão

Angustia-me

Esse teu olhar

Faz arder o peito meu

Bate em descompasso o coração



Do bastão

Música de Arthur Moreira Lima

Qual pluma vai

Brilhando ao sol

De mão em mão

Gentil leve bastão

Prova do imenso amor por ti


Dançamos nós

Meus olhos vão

Todos pros teus

Não pra te dizer adeus

Mas sim por querer te ter feliz


Agora que me levas para o céu

Do amor

O dia claro banha os campos

Na amplidão

Do tempo que se esvai

Nas horas de prazer

De quase só sonhar

Faço meu momento

Tanto amar


Bailar esse prazer

No corpo teu, assim

A vida vale pelo muito que se tem

Do amor de uma mulher

De todo bem querer

Que a gente quer, enfim


Pousa em tuas mãos

O meu bastão.


Lembrança do primeiro amor perdido
Dança Espanhola nº 5 de Henrique Granados

Música de Arthur Moreira Lima

I


Primeiro amor, ah, me lembro

Do que?

Disse-me adeus, eu não soube

Porquê

Bem querer, tanta paixão

Esquecidos

Foste de mim, desamor

E fiquei tão só


Enlouqueci

E me perdi

Em cismas, aflição


Ensombrecido vaguei

Mas voltei

Meu caminhar

Pra relembrar

O que senti


Em meio a negro pesar eu

Chorei em vão


Enlouqueci

E me perdi

Em cismas, aflição.


II


Enquanto a dor me envolveu

Cinzento tempo chegou

Fez-se saudade, morreu

O teu sorriso, o luar

Que me fizeram feliz

Que me fizeram cantar[

Canções alegres

Meus sonhos tantos

Os teus encantos

Mulher


III


Depois que tudo passou

Turvas lembranças vivi

Teu vulto me impregnou

Mas na memória desfiz

Seu lindo rosto fugaz

Um tempo de muita paz

Canções alegres

Meus sonhos tantos

Os teus encantos

Te amei

Nem sei o quanto Por que?


Volta em I e encerra.


Pavana para uma princesa morta – Ravel
Ou quando se vai um grande amor

Poema: Gonzaga Pinto

Vai tu’alma flutuando

Vi num céu de anil sem fim,

Deixando sempre em mim

Saudade e dor e tanto amor


Meu amor, de tua voz sei mil canções vêm

São memórias de um tempo havido que cantei


Tão bom lembrar você, ah! Sorrindo

Envolta em luz

Tua voz a me dizer te amei

Sempre te vou amar, sim


Mergulho em meu lembrar

Refaço o tempo de paixão

Um tempo muito lindo

Que jamais virá, sim

Neste meu coração


Vai tu’alma flutuando

Vi num céu de anil, sem fim

Deixando dentro em mim

Saudade e dor, e muito amor

Ah! Meu Deus! Que saudade do teu suave olhar

O teu sorriso a repetir

Te amo sempre

Então

Mergulho em meu sonhar, lembrar e sonhar

Refaço o tempo de paixão

Um tempo lindo tão bom


Mergulho em meu sonhar, lembrar e sonhar

Refaço o tempo de paixão

Um tempo lindo

Que não virá jamais em meu ser


Sangrado enfim

Ao teres partido

Trazendo, ai sempre em mim

Tanta saudade doída


Sangrado enfim

Ao teres partido

Trazendo, ai e sempre em mim

Tanta saudade, neste meu, triste fim

Desesperado fim


Vai tu’alma flutuando

Vi num céu de anil, sem fim

Deixando sempre em mim

Saudade e dor e tanto amor


Meu amor, de tua voz sei, mil canções vêm

São memórias de um tempo havido de cantar o amor


Chim Chim Cher-ee do filme Mary Poppins

Partitura: 01

I


Sonho um sonhar,

Voar neste azul

Meus pés percorrendo

As cinzas do sul,

Sou tão feliz

E quem me diz

Levando ao céu

Teclados ruidosos

E tanto escarcéu

Que os anjos se tornam

Malandros ao léu


II


Sonho um sonhar,

Vôo em cruz

E vou desvelando

Pedaços de luz

Sóis, girassóis,

Muitos bemóis

As cores vibrando

Meus olhos conduz

Sorrisos de festa

Me vou num só zus


Somewhere in time - do filme Em algum lugar do Passado

Partitura: 01

Brumas ao sol

Névoas és quase ser

Feito visão, nos verdes prados

Tanto amor

Flues da luz, da imensidão, sim

Do tempo gris que eu quis

Me fiz solidão


Toco-te as mãos

Agora és real

Sob este céu a fantasia

A encantar

A noite cai, sombras no teu olhar

Vem anunciar final

De um viver feliz


Pelos jardins, sonhamos nós,

Momento que não foi, será,

Talvez ilusão

Silêncio vem,

Brumas se esvaem

Fostes de mim.


Moon River - do filme Bonequinha de Luxo

Partitura: 01

Tão suaves, noites de verão

A luz no rio azul,

Nós dois

Mudos, juntos, a sós,

Sempre a pedir pra que o tempo

Não zombe de nós...

Um beijo, vultos ao luar

O barco a deslizar

Canções...

Brisa, teu olhar, mil estrelas

Luminosas vem

Acariciar o amor

Que a gente sonhou


Alô Dolly

Partitura: 01

Ale, Dolly, vêm dançar,

Dolly, vem mostrar

Teu rosto lindo e sensual,

E vem provar, Dolly,

Que és a tal, Dolly,

Quando voas nos salões

Desejos vão a mil,

Sorriso bom, Dolly,

És sedução, Dolly,

Quando brota desses

Lábios carmesins

Ah! Teu perfume, jas

Em aroma pleno de lilaz

Farto buquê de flores para ti.


Ale, Dolly, vêm dançar,

Dolly, vem mostrar

Teu rosto lindo e sensual,

E vem provar, Dolly,

Que és a tal, Dolly,

Quando voas nos salões

Desejos vão a mil,

Sorriso bom, Dolly,

És sedução, Dolly,

Quando brota desses

Lábios carmesins

Ah! Teu perfume, jas

Em aroma pleno de lilaz

Milhões de beijos quis

Gozo nos seus lábios gris

Então até o fim

Serei feliz.


Pompa e Circunstância – Aquela noite de amor

Partitura: 01

I

Sol, dia de encanto/ Lentos raios de luz

Vem trazer o canto/Que o tempo produz

Brilham sons de fanfarra/Mil fogos nos céus

Na brisa que sopra/Dançam cores ao leu

Com graça e poesia, Melodia no ar


II

Dou-te buquê de flores

Dá-me beijos de amor

Tanta luz, tantas cores

Neste céu de esplendor

E sonhamos mil sonhos

Sob pétalas mil

E vamos felizes

Nesta noite sem fim

Nossos ternos amores

Nesta noite sem fim


Volta a I

E continua em II/ repete em II e encerra.

Lembrança da Juventude - Piano

Música de Gonzaga Pinto

Pequena Suíte – Alegria e Lamento da Natureza

Música e Letra Gonzaga Pinto

Abertura


I - Resplandecente – Um campo verde entre flores

Eu sou um campo verde/Feliz a respirar

Ao sol eu vivo livre/Um vento a balançar

A dança de mil flores/No orvalho feito lã

As cores de ouro e prata/Rebrilham na manhã


Estamos tão contentes/A vida nos conduz

De dia o sol aquece/À noite a lua é luz


II - Passaredo

Corremos voamos/Amamos crescemos

Brincamos somente/No campo tão verde

Perfume aspiramos/Das flores amigas

E somos felizes/Na vida que temos

Eterna sabemos/Em cada estação

Em cada estação/Por fim renascemos


Não sabemos do tempo/Nem nos faz padecer

Os amigos ausentes/Não se pode esquecer

Que se vão perecendo/Em constante viver

Em constante viver


III - Canções das flores num dia gris

A Rosa

Onde foi a alegria/Diz-me cravo e jasmim

E o verde que havia/Ontem neste jardim?

O Jasmim

Rosa amiga onde andarão/Nossas cores nosso luar

E o perfume que noite tinha/Nosso ar, nosso ar

O cravo

Vê que noite tão fria/Olha o cinza do céu/Que saudade do fim do dia

Da estrelas ao léu

As três flores

Não se sabe se haverá/Novo tempo de se cantar

Mil canções que o jardim ouvia/Nosso lar, nosso lar


IV - Um cinza esperança

Quem passou por aqui/Uma praga um tufão

Minha rosa matou/Meu jardim massacrou

O meu cravo secou de uma vez/E o perfume das flores

Que um vento de amores/Fazia espalhar pelo ar

Não restou nem luar/Nesta poluição, sim

Esse monstro malvado/Cinzento safado/Levou meu jardim!

Que progresso chinfrim/Nosso homem criou:

Só constrói espigão/Queima o verde do chão

Aves, peixes destrói sem pensar/Na saúde do irmão

Num futuro de cão /Que prepara pro filho que vem

Nem se sabe também /Se um dia haverá, viu

Cores, cantos, perfumes/Encantos de bosques/Nas tardes de abril


V - Criança esperança

Viva o verde/Que ainda não se acabou/Viva a natureza que se preservou

Renasça a beleza de mão infantis /Brancas, negras, pardas

Mas muito gentis/Brancas negras pardas/Mas muito gentis

Viva o verde/Que ainda não se acabou/Viva a natureza que se preservou

Renasça a beleza de mãos infantis/Negras, brancas, pardas

Mas muito gentis.

Negras, brancas, pardas/Mas muito gentis.